Toquinho: “O palco é a extensão da minha casa”

Toquinho: “O palco é a extensão da minha casa”

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Toquinho se apresenta em Porto Alegre nesta sexta ao lado de Joyce. Foto: Marcos Hermes / Divulgação / CP Toquinho se apresenta em Porto Alegre nesta sexta ao lado de Joyce. Foto: Marcos Hermes / Divulgação / CP

Nascido em São Paulo em 6 de julho de 1946, Antonio Pecci Filho começou a estudar violão com seu mestre Paulinho Nogueira. Ainda adolescente, chegou ao profissionalismo fazendo parte de um talentoso grupo aflorado nos inigualáveis anos 60: Elis Regina, Zimbo Trio, Marcos Valle, Bossa Jazz Trio, Taiguara, Chico Buarque, entre outros. Entre as suas tantas parcerias, Vinicius de Moraes foi a maior. O poeta e compositor o convidou, em junho de 1970, para acompanhá-lo, ao lado de Maria Creuza, numa série de shows na boate La Fusa, em Buenos Aires. Esse encontro se alastraria por 11 anos de uma parceria que encantou o Brasil e o mundo com uma constante produtividade nos mais variados sentidos da música: criaram cerca de 120 canções, gravaram em torno de 25 LPs no Brasil e no exterior, atuaram em mais de 1.000 shows por palcos brasileiros, europeus e latino-americanos. 


Comemorando os seus 50 anos de carreira, Toquinho estará em Porto Alegre nesta sexta-feira, às 21h, para show com a cantora Joyce, no Teatro do Bourbon Country (Tulio de Rose, 80, 2º andar). O artista vem convidando alguns parceiros desta cinco décadas para shows pelo país. No fim de semana, ele se reuniu com Roberto Menescal e Carlos Lyra para apresentação em São Paulo. Para este show, Toquinho traz clássicos como “Que maravilha”, “Aquarela”, “O Caderno”, “Como dizia o poeta”, “A Tonga da Mironga do Kabuletê”, “Carta ao Tom 74”, entre outras. Já Joyce deve tocar sucessos como “Clareana”, “Monsieur Binot”, “Essa Mulher” e “Feminina”, entre outros. Os ingressos para o show de sexta-feira estão à venda nas bilheterias do Teatro do Bourbon Country e pelo site e fone 4003-1212. 


Correio do Povo: O que você tem para comemorar nestes 50 anos de carreira?


Toquinho: Perdura a sensação de uma constante renovação e de um contínuo aprimoramento. Cada ano robustece o seguinte e as décadas se diluem na descoberta de técnicas novas e na extensão do vigor ampliado pelas conquistas e pelos sucessos. O tempo não apaga o que nos arde na alma. Essa longa trajetória só pode ser alcançada com muita dedicação. Eu me considero um artesão, sempre apoiado no violão que representa o início e o desenvolvimento de tudo. E a música será sempre uma chama a aquecer minha dedicação ao instrumento. Estudo todos os dias a procura de novos acordes e harmonias. Amo fazer o que faço, o palco é a extensão de minha casa. Nele sou simples e íntimo da plateia. Penso muito na música “Para viver um grande amor”: “Eu não ando só / só ando em boa companhia / com meu violão / minha canção e a poesia.” A cada show, comemoro minha formação musical, que me possibilitou esse desenvolvimento. Além de meu mestre maior, Paulinho Nogueira, tive aulas de harmonia com Edgard Gianullo, e adquiri algum conhecimento de violão clássico com Isaias Sávio, além de seguir as performances de Turíbio Santos. Somando a isso, tive aulas de orquestração com o maestro Léo Peracchi. E para complementar essa mistura de tendências sempre fui um apaixonado pelo estilo de Baden Powell. Em meio a essa trajetória de aprendizados surgiram as parcerias que valorizam sobremaneira minhas composições. O resto, a vida se incumbiu de mostrar-me valores e caminhos que eu soube aproveitar usando meu talento maior: o de instrumentista. Portanto, há uma comemoração a cada acorde novo, a cada subida nos palcos, a cada disco gravado, a cada aplauso do público que se renova por muitas gerações.


CP: Antes do show com a Joyce em Porto Alegre, você comemorou a data com os parceiros Carlinhos Lyra e Roberto Menescal, além de Tiê. Pode nos falar sobre teus grandes parceiros?


Toquinho: Desde o início de minha trajetória, as parcerias têm sido fundamentais. Tanto nas composições como nos shows. Nessa trilha de comemoração de 50 anos de carreira, vários parceiros dividiram e dividem o palco comigo, como Verônica Ferriani, João Bosco, Ivan Lins, MPB4, em shows de grande sucesso. Tenho feito shows com Tiê Biral, que sempre valoriza os espetáculos com sua graça e suavidade; Carlinhos Lyra, um dos ícones da Bossa Nova, notável melodista, ídolo na minha adolescência; e Roberto Menescal, outro expoente da Bossa Nova, mestre de minha e tantas gerações. É um prazer redobrado tê-los ao meu lado nessa fase marcante de minha vida. E esse show ao lado de Joyce dará prosseguimento a essa série de apresentações.


CP: Você foi um grande parceiro do Vinicius. Assisto a seus shows há algum tempo e as histórias que você conta do Vinicius e do Tom são uma melhor que a outra. O que significa para você ter vivido intensamente todo um período de transformação da música brasileira?


Toquinho: Dificilmente acontecerá em minha carreira uma parceria tão profícua e importante quanto aquela com Vinicius de Moraes, consolidada pela generosidade, pela compreensão das diferenças e pela troca de talentos. Enfim, trocamos vivências: eu passei para ele a experiência da juventude; ele me transmitiu a juventude da experiência. E nos completamos na música e na amizade. Nossa música, simplesmente sofisticada, aflorou e se consolidou em meio ao predomínio do Tropicalismo, e reacendeu nas pessoas os valores do samba de raiz. Além disso faço parte de uma geração privilegiada, herdeira da estrutura musical da Bossa Nova, que nos confere ainda, até hoje, a qualidade maior no cenário musical brasileiro.


CP: O que o público de Porto Alegre pode esperar deste show com a Joyce?


Toquinho: Joyce é uma parceira de longas caminhadas, já fizemos muitos shows juntos, no Brasil e na Europa. Grande instrumentista e cantora de voz peculiar, compositora de primeira linha. Temos tudo para fazer um show intimista com a participação do público ouvindo sucessos que gostam de cantar junto.


CP: Quais são as suas músicas de maior predileção e por quê?


Toquinho: Convivo com música desde minha infância. São tantas que me emocionaram e prosseguem me emocionando.  Determiná-las aqui seria um desrespeito àquelas não lembradas.


CP: Em entrevista, você admitiu ter remédios para tudo, ser um diagnosticista. Qual seria o remédio para o Brasil atual?


Toquinho: Exterminar a corrupção, o que se percebe que já está acontecendo.


CP: Que música aqui do Sul tem te chamado a atenção? Você tem ouvido a música deste pedaço do país? Feito alguma parceria com gente daqui? Já emendo outra pergunta sobre a importância de tocar em Porto Alegre e sobre o público gaúcho?


Toquinho: Já toquei várias vezes com o querido violonista Yamandu Costa, um instrumentista excepcional que mantém vivas nele as tradições musicais gaúchas; além disso, já dividi o palco com o Renato Borghetti, em um show em Porto Alegre, há cerca de 10 anos. Tocar em Porto Alegre é sempre gratificante; o gaúcho ama muito a música, a cultiva em seu dia a dia, e sempre apreciou nossos shows.


CP: E sobre a história da música, a tua história pessoal, algo ainda inusitado para nos contar, que lembraste recentemente?


Toquinho: A música me mostrou caminhos e pessoas que alicerçaram minha vida entre valores e conquistas. A cada experiência adquiro a visão de uma continuidade mais segura e profícua. Alimento-me da diversidade dos lugares, das cidades e de sua gente, que dão à minha vida um sentido de evolução constante. 



Por Luiz Gonzaga Lopes


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