O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a ressaltar essa semana a “boa conversa” que teve por telefone com o presidente Lula. O americano retornou ao assunto em recente reunião na Casa Branca. Lula e Trump falaram superficialmente sobre as tarifas de 50% impostas por Washington a produtos brasileiros dias depois de um encontro na ONU, em Nova Iorque, considerado satisfatório e com muita “química” pelo norte-americano. De lá para cá, emissários foram escolhidos para a tarefa de seguir dialogando, e a pauta dos representantes dos dois governos não mira só taxas, se estendendo para questões diplomáticas, políticas e de tecnologia.
O contato entre os dois presidentes parou naquele de 6 de outubro. Presencial, mesmo, só a reunião de ontem entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado, Marco Rubio, considerada “positiva”. Por causa disso há quem diga que a tal “química” entre os dois presidentes, citada pelo próprio Trump ainda em setembro, teria perdido força. “Eu vi ele, ele me viu e nos abraçamos”, disse Trump, mas o encontro presencial está pendente. Será que os abraços de Lula seriam desvantagens para o republicano, fazendo com que ficasse mais maleável e perdesse o foco na hora de acertar percentuais e produtos? Afinal de contas, ele admite gostar do mandatário brasileiro, com posições políticas contrárias às dele.
De um modo ou de outro, Trump muda de opinião várias vezes sobre um mesmo tema, independentemente do país com quem negocia ou dos objetivos. Se isso é bom ou ruim, paira a dúvida. Pedi uma opinião ao Oscar Berg, professor universitário e doutorando em Ciência Política na Universidade do Quebec, Canadá. Também no Canadá a novela das tarifas é longa. “Tendo acompanhado de perto as relações entre Trump e o premiê canadense Mark Carney, é importante dizer que o atual otimismo brasileiro deve ser cauteloso”, alerta, lembrando que mesmo em contatos considerados positivos, o resultado nem sempre é o esperado. “Como Brasil e Canadá são dois dos países mais atingidos pelas tarifas americanas e sofreram, ambos, ameaças contra sua soberania, lições podem ser tiradas. Trump rasgou elogios aos investimentos canadenses em defesa e combate às drogas, mas para Trump ainda não é momento de rever tarifas contra as importações canadenses”, lembrou. Para Berg, no caso do Brasil, até aqui Trump e Lula fizeram o esperado. “Conversaram enquanto chefes de Estado, cada um defendendo interesses de seu país.”
'MODERAÇÃO'
“A partir do momento que os Estados Unidos sinalizassem interesse em conversar com o Brasil, o governo federal estaria disposto a fazê-lo. Esta postura tem sido elogiada, pois promove os pilares da diplomacia brasileira: a preferência pelo diálogo, o multilateralismo e a moderação”, acrescentou o professor Berg.
Vieira e Rubio encaminharam a conversa nos EUA. Agora, cresce a expectativa de reunião entre os presidentes na cúpula dos países do sudeste asiático, dia 26. Ou em novembro na Casa Branca.
A exportação do Brasil para os americanos caiu a 5,4 bilhões de dólares em agosto e setembro, ou seja, 20% menos que os 6,6 bilhões de dólares apurados no mesmo período de 2024. Os números do comércio exterior estão pedindo soluções rápidas.
