Trabalhar ou empreender pode ser escolha ou destino, dependendo das circunstâncias. E antes que o mês termine é preciso celebrar quem marca presença no mercado hoje: o trabalhador “60 mais”. Adotada pelas Nações Unidas, a data estabelecida em 1° de outubro como Dia do Idoso propõe reflexões sobre políticas de envelhecimento. Andei dando uma espiada em uns dados do IBGE e da Fundação Getulio Vargas. Em questão de 12 anos a turma que antigamente já estaria aposentada segue na lida. No último trimestre de 2012 eles eram 15% dos profissionais na ativa. Pois em 2024 chegaram a 20% e passaram de 4,7 milhões de sessentões para 8,6 milhões. Com os 20% da força de trabalho que representa, o grupo dos idosos só perde para a faixa dos 18 aos 29, com 22% do total. Esses movimentos acompanham o que mostra outro levantamento do IBGE baseado nos últimos Censos. A população de idosos mais que dobrou de 2000 a 2023, de 15,2 milhões para 33 milhões de pessoas. E ainda, a média de idade mais alta está no RS: 38 anos, enquanto o estado mais jovem, Roraima, registra 28.
Acabo de lembrar aqui da minha antiga vizinhança da zona Leste, onde até hoje há uma lojinha de presentes e material escolar. Quatro décadas antes a jovem proprietária daquela microempresa contratou uma também jovem funcionária que ali mesmo se aposentou e segue trabalhando. Motivos? Como a maioria de nós não vive de herança, complementar a renda do benefício do INSS é um dos cenários mais prováveis. Dados do Instituto mostram que 70% dos aposentados, ou 28 milhões deles, recebem o salário mínimo de R$ 1.518 mensais.
De todo modo, ganhando o piso ou mais, o fato é que esse grupo engorda a atividade econômica e é preciso pensar a respeito. “A geração prateada está forçando uma transformação”, enfatiza Adão Rocha, professor de Gestão em RH no curso de Administração da Fadergs e especialista em modelagem de negócios. Rocha ressalta que a geração acima dos 60 anos movimenta até R$ 2 trilhões por ano na economia brasileira. Ele assinala ainda possibilidades de transição de carreira relembrando sua própria experiência. Com 61 de idade e após sete anos no comércio e 27 na indústria, migrou para o ensino superior depois da aposentadoria.
NA PRÁTICA
“O conceito de maturidade é redefinido, há longevidade, e o que antes era inatividade e isolamento, hoje não é”, reforça Rocha, enfatizando ainda que o setor de serviços pode ampliar atividades para esse público em áreas como saúde, lazer e tecnologia.
“São consumidores fiéis, alguns empreendendo, usando expertise, estudando mercados”, assinala o professor, lembrando que as pessoas cada vez mais “permanecem ativas e engajadas, derrubando o estereótipo do pijama e da pantufa”.
Recentemente o presidente Lula fez 80 anos trabalhando, indo a outros países buscar parcerias e fazendo atividade física. Igualmente, os últimos três mandatários também já tinham cruzado a linha dos 60 ao serem eleitos. Sinais de que talvez a questão da idade esteja, aos poucos, se distanciando de preconceitos como etarismo
