A coletividade pede passagem

A coletividade pede passagem

Alina Souza

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Ao todo, passo muitas horas de minha vida dentro de ônibus e percebo como as cenas no transporte público revelam profundos traços comportamentais da sociedade. São medidores de cidadania. De respeito — ou da falta deles. Vamos a alguns fatos. Ônibus cheio, dois assentos preferenciais ocupados por jovens em órbitas distantes. Uma senhora na faixa dos 70 anos passa e nenhum deles faz menção de se levantar. A senhora vai o trajeto inteiro em pé, tentando firmar-se nas barras verticais e no próprio banco onde está sentado um dos moços que sequer olhou para fora de si mesmo. Zero consideração à pessoa idosa. Passamos então para outro fato comum: passageiros que não desembarcarão imediatamente e, mesmo assim, obstruem as portas de saída. Já quase perdi minha parada porque esperei o sujeito na minha frente descer, e não desceu, e eu demorei para entender que ele estava ali só de enfeite. Poxa, alguém lembra que é transporte coletivo? Vou repetir: co-le-ti-vo. Custa enxergar um pouco além do próprio umbigo, antes do fim da linha?


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