Diante do sol

Diante do sol

Alina Souza

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Não temo as sombras. Pelo contrário, as procuro. Elas revelam um segundo plano que reverbera a direção da luz e projeta longas formas, às vezes mais intensas que a superfície ao alcance das mãos. As substâncias têm eco, compõem desenhos, manifestam-se em outras camadas através de seus traços essenciais. O interior obscuro clareia reflexões intimidadas com o excesso de cores, elementos, informações. Abre possibilidades, insere leveza e movimento sobre a densidade do solo, das paredes, das pedras, dos arredores inflexíveis. As sombras provam que estamos diante do sol. Com sutis deslocamentos, apontam o passar do dia, o passar da vida, o compasso do tempo, o desejo de extensão. Persigo estes vestígios, realidades duplicadas, mescladas umas às outras. Permito-me ser conduzida pelos pontos de intersecção, aprecio a matemática dos acasos, adentro em um território que parece ter ficado para trás, mas os contornos inscritos nos grãos de areia avisam que algo ainda ressoa. Talvez o anseio de pegar um impulso e deixar todo o peso pender no ar. Divagar, sem que esse ato implique desprender-me do chão.

Texto e fotos: Alina Souza


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