Família

Família

Alina Souza

Família passeia no Parque Farroupilha.

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A pandemia arranca veementemente as folhas do calendário e deixa deveras nítida a falta que a família faz. Três meses sem ver meus pais. Por mais que as ligações sejam frequentes, sinto-me incompleta. Mesmo os dias mais bonitos parecem ter uma névoa que lhes impede a plenitude. Depois de tantos textos nos quais tentei inibir a angústia, agora devo confessar que não aguento mais! Conto as horas para poder viajar e perguntar face a face “como está?”. Enquanto esse dia não chega, o sentimento transborda nas imagens e elas reproduzem as múltiplas cores do imaginário. No interior da câmera existe um espelho: faz-se intensa a reflexão. A escolha do enquadramento lá fora é feita a partir da paisagem aqui dentro. Tudo o que eu mais quero hoje é um passeio com meu pai e minha mãe e, por um segundo, encontro-me inscrita na infância retratada. Perdoem-me por eu raptar instantes a fim de representar e suportar a saudade que não cabe em palavras. Recorto momentos para poder tocar a consistência do imaterial. Sentir que somos todos um corpo e há tanto dos outros refletido em nós. 


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