Intimidade

Intimidade

Alina Souza

Centro Histórico de Porto Alegre nos dias de carnaval.

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Os dias de carnaval despiram as ruas de Porto Alegre. Eu e a cidade ficamos a sós por vários momentos, uma perpassando a outra, descobrindo uma intimidade até então ofuscada pelo vai e vem da multidão. Sim, eu me distraio fácil com as pessoas, raramente observo o concreto por onde passo, embora eu sinta que ele tem algo a dizer. Com os minutos de silêncio das manhãs do feriado prolongado, ficamos frente a frente, sem interferências, e era como se eu observasse as paredes da minha casa. Dei-me conta do quanto estes caminhos direcionam os passos, como meu corpo desempenha o seu trajeto com a familiaridade de quem domina o lugar. Já reconheço as calçadas, os detalhes dos prédios, o tempo das sinaleiras. Percebi que há um movimento constante de lembranças, e o vazio fica cheio de silhuetas imaginárias, histórias vividas e outras tantas sonhadas. A quarta-feira de cinzas interrompeu o nosso diálogo particular, logo os transeuntes e o trânsito retomaram suas órbitas. Ainda que tenha sido breve a parada, notei que não só atravesso vias: sou atravessada pela geografia e, nela, construo pertencimento.


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