Há um Século no CP

A Alemanha elege nacionalista e militarista à presidência

A edição do dia 28 de abril de 1925, terça-feira, edição n. 99, noticiava

As primeiras eleições diretas na Alemanha republicana fizeram do militar prussiano Paul Ludwig Hans Anton von Beneckendorff und von Hindenburg, comandante das forças alemãs na Primeira Guerra, o novo presidente alemão. De certa forma, a vitória da direita, ainda que não tenha se dado de maneira tão larga, representou o desejo de parte do povo alemão de demonstrar força contra seus vencedores no conflito mundial e também contra a esquerda estimulada pelo projeto soviético
As primeiras eleições diretas na Alemanha republicana fizeram do militar prussiano Paul Ludwig Hans Anton von Beneckendorff und von Hindenburg, comandante das forças alemãs na Primeira Guerra, o novo presidente alemão. De certa forma, a vitória da direita, ainda que não tenha se dado de maneira tão larga, representou o desejo de parte do povo alemão de demonstrar força contra seus vencedores no conflito mundial e também contra a esquerda estimulada pelo projeto soviético Foto : CP Memória

“O marechal Hindenburg está eleito presidente da República.”

“Já se afirma incontestável a vitória do marechal Hindenburg. Aliás, depois da meia noite, já os dirigentes da campanha eleitoral pelo sr. Marx admitiam triunfo do candidato militarista.”

“As eleições decorreram por entre grande entusiasmo. Compareceram às urnas 30.345.540 eleitores. Votaram no marechal Hindenburg 14.639.399 eleitores e no sr. Marx, 13.752.640. O resto da votação divide-se pelos candidatos menos votados.”

“O marechal Hindenburg foi eleito por uma maioria de quase um milhão de votos.”

A opinião dos jornais — “Os jornais de hoje [27 de abril] apareceram cheios de comentários sobre o pleito de ontem. A maioria, de um modo geral, considera a eleição do marechal Hindenburg uma vitória nacional. Os jornais da direita propõem que a cidade seja embandeirada com as cores da monarquia. O ‘Deutsch-Zeitung’ assinala, a propósito, o início de uma nova era para a Alemanha. O ‘Allgemeine Deutsch-Zeitung’ acentua a significação do resultado do pleito e diz que ‘a velha Alemanha é ainda imortal’. O ‘Zeit’ atribui a vitória do marechal Hindenburg à sua própria personalidade e a derrota do ex-chanceler Marx ao fato da imprensa da esquerda, durante a campanha eleitoral, dizer que, caso se verificasse a vitória da candidatura Hindenburg, a intervenção estrangeira implantaria a ditadura na Alemanha. O ‘Berliner Tageblat’ aprecia o pleito com prudência e moderação, achando que o triunfo do candidato militarista é a vitória da especulação sobre a inexperiência política da maioria do povo alemão.”

Um incidente — “O sr. Fritz Ebert, filho do falecido presidente da República, foi preso quando, em uma manifestação que se realizava em favor do marechal Hindenburg, deu um viva à República, sendo pouco depois posto em liberdade. Os agentes autores da prisão foram repreendidos.”

Distúrbios provocados pelos socialistas — “A eleição do marechal Hindenburg para presidente da República foi recebida com extrema alegria pelos nacionalistas, que promoveram manifestações de júbilo em toda a Alemanha. Os socialistas e comunistas organizaram contramanifestações, travando-se conflitos em que houve alguns mortos e muitos feridos.”

Apreciações da imprensa francesa — “A notícia do resultado das eleições alemãs causou geral decepção e foi recebida com reservas pela imprensa, que augura mal a presença do sr. Hindenburg na chefia da Nação e lembra que o candidato eleito consultou o ex-Kaiser antes de aceitar a sua candidatura. Esse fato, segundo os jornais parisienses, indica que o marechal Hindenburg fará uma política reacionária perigosa para a paz da Europa. Os jornais franceses preveem ainda sérios tumultos no Reichstag, promovidos pelos adversários do novo presidente da República.”

O militar conservador Paul von Hindenburg encarnava o sentimento nacional alemão ferido pela derrota na Primeira Guerra Mundial e humilhado pelo Tratado de Versalhes. Após a presidência do social-democrata Friedrich Ebert, a República de Weimar se volta definitivamente à direita, com pressões internas vindas dos nacionalistas e mesmo dos monarquistas em sua oposição à esquerda socialista — muita ativa, mas sistematicamente perseguida. O papel de Hindenburg foi instrumental para a ascensão de Hitler ao poder. O presidente dissolveu o parlamento por duas vezes em 1932, criando uma sensível instabilidade política. Em janeiro de 1933, o velho estadista aponta o líder nazista como chanceler da Alemanha em coalizão com o conservador monarquista Partido Popular Nacional Alemão. O famoso incêndio do Reichstag em fevereiro de 1933 precipitou a situação geral: Hindenburg assinou decretos suspendendo diversas liberdades civis e conferindo ao Partido Nazista poderes emergenciais. O presidente morreu em 1934. Hitler então combinou a presidência com o cargo de chanceler até se declarar Führer e estabelecer o Estado totalitário na Alemanha, levando a nação diretamente para a Segunda Guerra Mundial.

A obstinação comunista na Bulgária

“Os representantes diplomáticos da França, da Inglaterra e da Itália entregaram ao presidente do Conselho de Ministros a decisão do Conselho dos Embaixadores sobre o aumento dos efetivos militares na Bulgária. O chefe do governo grego apresentou as razões e objeções da Grécia para aumento idêntico temporariamente ao do exército búlgaro e pelos mesmos motivos.”

“Novos atentados — Registraram-se novos atentados que se atribuem aos comunistas. O espírito público, já sob forte impressão, mostra-se alarmado com as novas tentativas, apesar das providências adotadas pelas autoridades para impedir qualquer nova manifestação comunista. Na cidade de Pleona explodiram bombas no Theatro Municipal e na biblioteca pública, causando grandes danos materiais. Foram presas várias pessoas suspeitas de conivência nesses atentados.”

“Na região de Varna, fracassou a tentativa da destruição de três pontes das linhas férreas. Em Vratsa, um grupo de desconhecidos atacou uma patrulha militar. Travando-se luta, foi morto um soldado, havendo dois feridos. [...]”

Crise das letras

“A carestia da vida começa a impressionar os próprios Imortais. Na Academia Brasileira discutiu-se calorosamente o preço... do papel. O poeta Luiz Guimarães Filho, com a autoridade de um homem que conta várias reedições em prosa e verso, investigando as razões da crise do livro no Brasil, encontra-as na carestia do papel, e, tomando ares de pai da pátria, apresentou à assembleia um projeto com dois artigos, a que falta apenas o ‘revogam-se as disposições em contrário’. Não nos parece que as razões do ilustre autor dos ‘Samurais e Mandarins’ estejam suficientemente demonstradas. Se o livro estrangeiro faz concorrência ao nacional não é tanto pelo preço. Toda a gente que lê sabe perfeitamente que um volume impresso na França, na Alemanha ou mesmo em Portugal, apesar das isenções de direitos, custa hoje preços inconcebíveis. A produção nacional não minguou, apesar da alta do papel. Que o diga, por exemplo, o sr. Monteiro Lobato. Diante mesmo de certos livros, chega-se a lamentar que o papel esteja... tão barato. O que escasseia entre nós são os bons livros. Os maus abundam. Não há crise de livro, há crise de escritores e um pouco também de leitores. No tempo do papel barato, um romance de Machado de Assis dificilmente chegava à segunda edição. A primeira edição das ‘Poesias’ de Bilac, o poeta mais lido em todo o Brasil, levou anos a esgotar-se. Existem, pois, outras causas para a penúria que tanto preocupa a Academia. De tudo, porém, o mais estranho é a ideia do laureado poeta-diplomata de pedir o apoio do governo em favor de certas medidas, de modo que ‘as letras nacionais passem a ser tão dignas de consideração e de favores como as letras estrangeiras’. Pelo visto, também a Academia de Letras quer fazer oposição à reforma do ensino.”

O dia 28 de abril na história

  • 1503 Os exércitos espanhóis e franceses se enfrentam no sul da Itália na Batalha de Cerignola, no que foi um dos primeiros confrontos europeus a utilizar armas de fogo com pólvora.
  • 1889 Nasce em Vimieiro o economista e estadista Antonio de Oliveira Salazar, ditador do Estado Novo português entre 1932 e 1968.
  • 1896 Nasce na Romênia o poeta e artista performático Tristan Tzara, fundador do movimento dadaísta.
  • 1923 O estádio londrino de Wembley é inaugurado oficialmente com o nome de Empire Stadium e sedia a final da FA Cup entre Bolton Wanderers e West Ham United.
  • 1928 Fundada no Rio de Janeiro a escola de samba Estação Primeira de Mangueira.
  • 1937 Nasce o político revolucionário Saddam Hussein, líder iraquiano entre 1979 e 2003.
  • 1937 O virologista sul-africano Max Theiler anuncia uma vacina eficaz contra a febre amarela.
  • 1941 A organização fascista croata Ustase executa cerca de 200 sérvios na vila de Gudovac, iniciando a campanha genocida contra sérvios no Estado Independente da Croácia.
  • 1945 Benito Mussolini e sua amante Clara Petacci são executados pelo partigiano Walter Audisio.
  • 1945 A Alemanha nazista utiliza pela última vez as câmaras de gás para executar 33 líderes socialistas e comunistas austríacos em Mauthausen.
  • 1952 Entra em vigor o Tratado de San Francisco, restabelecendo a soberania japonesa e encerrando o estado de guerra do país com a maioria dos Aliados.
  • 1952 O Tratado de Paz Sino-Japonês é assinado em Taipei, Taiwan, e oficialmente encerra a segunda guerra entre a República da China e o Império do Japão.
  • 1953 Nasce em Santiago o poeta e escritor chileno Roberto Bolaño, autor de “Os Detetives Selvagens”.
  • 1965 Tropas americanas invadem a República Dominicana para “prevenir o estabelecimento de uma ditadura comunista”.
  • 1967 O boxeador Muhammad Ali se recusa a servir na Guerra do Vietnã e é destituído de seus títulos no esporte.
  • 1969 O general Charles De Gaulle se demite do cargo de presidente da França.
  • 1973 O álbum “The Dark Side of the Moon”, da banda britânica Pink Floyd, chega ao primeiro lugar na Billboard, iniciando sequência recorde de 741 semanas na liderança.
  • 1978 O presidente do Afeganistão, Mohammad Daoud Khan, é deposto e assassinado em golpe liderado por rebeldes pró-comunistas.
  • 1986 Altos níveis de radiação de Chernobyl são detectados na Suécia, forçando as autoridades soviéticas a admitir o acidente.
  • 1992 O presidente italiano Francesco Cossiga renuncia oficialmente ao cargo, lançando o país em grave crise constitucional.
  • 1999 Morre em Ipswich o ex-treinador inglês Alf Ramsey, técnico campeão mundial com a Inglaterra na Copa de 1966.
  • 2004 A rede televisiva americana CBN divulga evidências de abusos e torturas de prisioneiros em Abu Ghraib, no Iraque.
  • 2015 Morre em São Paulo o ator, crítico e intelectual Antônio Abujamra.


* A grafia está atualizada para as normas atuais, à exceção dos nomes próprios

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