A emigração italiana para o Brasil entra em discussão

A emigração italiana para o Brasil entra em discussão

Não houve edição do Correio do Povo no dia 9 de fevereiro de 1921

Renato Bohusch

As relações trabalhistas dos imigrantes no Brasil estavam em debate.

publicidade

DIVERSAS

A emigração italiana para o Brasil - Uma carta do sr. Nilo Peçanha - Quando, recentemente, o sr. Victor Manuel Orlando, ex-presidente do Conselho da Italia, visitou o Brasil, affirmou-se que um dos objetivos de sua viagem era a celebração de um tratado de trabalho e emigração, entre o seu e o nosso paiz. Mais tarde, atravez do parecer de uma das directorias do Ministerio da Agricultura, que vem a publico, soube-se que, no tratado proposto se incluiam clausulas que o nosso governo reputava inaceitaveis. Nada mais se soube a respeito. E esse assumpto de grande importancia, ficou cercado de impenetravel reserva guardada pelos dous governos interessados. Apparece, porém, agora, uma publicação que esclarece notavelmente a questão. É o caso do sr. Alessandro d’ Atri, publicista italiano e muito conhecedor das cousas brasileiras, interessado pelas noticias que circulavam acerca do fracasso da missão do sr. Orlando, dirigiu-se ao dr. Nilo Peçanha, ex-ministro do Exterior, que se acha actualmente em Nice, pedindo-lhe esclarecimentos sobre o assumpto. O dr. Nilo Peçanha promptamente accedeu ao pedido, enviando ao sr. Alessandro d’Atri, que a fez publicar no “Corriere del Matutino”, de Napoles, a seguinte carta: Nice, 20 de dezembro de 1920 - Meu caro d’Atri - prometti informal-o se effectivamente o governo do Brasil, havia recusado a proposta de um tratado de trabalho por parte do governo da Italia. Em relação ao primeiro quesito devo dizer-lhe que o brilhante embaixador do Brasil em Roma deu-me a honra de me communicar que o tratado de trabalho, em questão, não foi recusado; é ainda objecto de estudo no Ministério da Agricultura no Rio de Janeiro. Pelo que concerne á segunda promessa, não conhecendo eu o texto da proposta apresentada pela Italia, aventurar sobre ella um juizo qualquer, seria, sem duvida, irregular. Porém sem antecipar commentarios sobre o modo com que se fazem as negociações, permitta-me que eu trate do caso sob o ponto de vista geral. A liberdade individual, no Brasil, inspira todas as nossas experiencias, todos os nossos estimulos e, é na liberdade que reside toda nossa força presente e futura. O extrangeiro goza lá, constitucionalmente, todos os direitos que os cidadãos brasileiros gozam, e nós recebemos e collocamos o immigrante, tornando-o proprietario da terra, cousa que não se dá na Europa, apezar da sua organização progressista, si se quer, mas impenetravel ao extrangeiro. E é pela nossas leis, a organisação da nossa justiça - que póde invalidar os actos dos governos e os do legislativo, sendo esse o unico poder absoluto na nossa democracia republicana - que nós estamos recebendo correntes immigratorias de todos os paizes, e particularmente da Rumania e da Austria, de onde irão para nós 60.00O trabalhadores sem que lhe tivessemos pedido. Eu sei que não devo esperar em vão no valor, na experiencia, e no tacto do grande Homem que hoje dirige os destinos da Italia. Estou certo de que Elle, magistrado e professor de direito, terá em séria conta o principio de justiça que deverá presidir o estudo e a solução de questões que tanto interessam os dous paizes, tradicionalmente amigos. Confio no seu talento e na alta reputação que elle goza em toda a Europa. Seja interprete, meu caro d’Atri dos meus sentimentos e do meu enthusiasmo, pela sua Italia que, como se sabe, amo imensamente na sua Gloria e no seu Genio e aceite os meus cumprimentos - seu do coração - Nilo Peçanha”. O ex-ministro das Relações Exteriores, foi morar na França.

Matéria publicada na edição do Correio do Povo de 8/2/1921.

A grafia da época está preservada nos textos acima

CRONOLOGIA

O dia 9 de fevereiro na história

1919 - Primeiro vôo comercial é feito de Paris a Londres.
1942 - Criação do território de Fernando de Noronha.
1964 - Morre o compositor e radialista Ary Barroso. 
1967 - Lei de Imprensa é sancionada pelo presidente Castelo Branco.
1997 - Morre o ex-ministro da Fazenda Mario Henrique Simonsen. 

 


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895