Há um Século no CP

A progressiva captura do poder pelo fascismo na Itália

Da edição do dia 14 de outubro de 1925, quarta-feira, n. 244

Sob um manto deturpado de legalidade, o regime fascista italiano cooptou o poder público de maneira gradual, assegurando para si o controle total das instituições políticas
Sob um manto deturpado de legalidade, o regime fascista italiano cooptou o poder público de maneira gradual, assegurando para si o controle total das instituições políticas Foto : CP Memória

“Em sessão de hoje [9] do gabinete ministerial, foi aprovada a minuta do projeto de lei instituindo, como no antigo direito romano, o Conselho de Estado dos 500, composto de habitantes de Roma. Essa medida dará ao governo o controle das administrações locais e está intimamente ligada à rigorosa reorganização das uniões de trabalho, em virtude da qual as instituições fascistas são os únicos representantes do operariado nos conflitos industriais. Terminada a reunião do gabinete, foi fornecido um comunicado à imprensa, declarando que o sr. Benito Mussolini, presidente do Conselho, tinha informado amplamente os ministros sobre a situação internacional, mas nada transpirou a respeito dessas informações.”

“O Conselho de Ministros ratificou a proposta do Grande Conselho Fascista, a fim de ser reformado o Senado. Este transformar-se-á, pouco a pouco, de corporação cujos membros são designados pelo rei, em corporação eletiva, pertencendo os eleitores a organizações reconhecidas pelo governo.”

“Com a instituição do gabinete sob a presidência do primeiro-ministro, torna-se este o único ‘leader’ responsável e real por toda a atividade do ministério perante a Coroa e o país. A situação dos ministros fica automaticamente diminuída e todo o gabinete é insuficiente para determinar uma crise ministerial, para o que será necessária a renúncia do seu chefe atual. No Conselho de Estado, assumindo esse funções legislativas, segundo o referido plano, o Grande Conselho passará à dependência do primeiro-ministro, cabendo-lhe preparar leis em vez do Parlamento, cujas funções se limitarão a votar, redigir ou emendar as leis existentes. O Ministério e a Presidência tendem, substancialmente, a dar um regime fascista necessário à continuidade da pessoa do 1° ministro, sr. Benito Mussolini.” [...]

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Elogios

“‘O Jornal’ [diário carioca lançado em 1919 e que passou a fazer parte dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, a partir de 1924] publica a fotografia de Caldas Júnior, acompanhada da seguinte notícia. O ‘Correio do Povo’ acaba de entrar no trigésimo aniversário. Há três decênios, Caldas Júnior, que foi o mais notável transformador do jornalismo no sul do País, fundava em Porto Alegre o diário que se tornaria em pouco tempo o de maior circulação, o mais bem informado doutrinariamente e o mais bem feito no Rio Grande. Sob o pulso desse infatigável trabalhador, o ‘Correio do Povo’ desenvolveu e ampliou os serviços e alargou seu campo de atividade, impondo-se pela autoridade e independência à estima pública. É um dos poucos jornais do Brasil a que se pode dar, com justiça, o nome de órgão legítimo da opinião coletiva e das tradições do liberalismo gaúcho. Possuem suas colunas ante-mural robusta, que as tem defendido, mesmo nas horas da penumbra da liberdade, dentro ou fora do Rio Grande, um grupo de homens de imprensa, tendo à frente Alexandre Alcaraz, que fazem, hoje, o ‘Correio do Povo’ continuar a obra de Caldas Júnior, mantendo o jornal no nível do prestígio com que o valente animador o legara, em 1913, aos seus discípulos.”

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Tiragens

“Ninguém ignora que a condição de escritor no Brasil é precária. Os vultos mais expressivos da nossa mentalidade mal conseguiam viver do seu trabalho. Machado de Assis nunca pode prescindir do emprego público. Olavo Bilac foi durante anos inspetor escolar. Coelho Netto, que teima em viver da inteligência, tem tido uma vida de sacrifícios. Seria inútil prosseguir nas citações. Os políticos, porém, vieram ensinar aos escritores e artistas a arte das edições sucessivas. Os livros de Machado de Assis nunca alcançaram mais de uma edição. Igual sorte tiveram as obras de muitos outros escritores. Pois o ‘Pela Verdade’, do sr. Epitácio [Epitácio Pessoa, presidente da República entre 1919 e 1922], já alcançou uma edição de vários milheiros. O livro do sr. Mário Rodrigues [jornalista, pai de Mário Filho e Nelson Rodrigues] vai-lhe nas pegadas. E já se anuncia o volume do sr. [João Pedro da] Veiga Miranda [engenheiro, professor, escritor e político, ministro da Marinha do Governo Epitácio], que é autor de várias obras literárias quase desconhecidas. Estamos certos, porém, que o livro atual fará do sr. Veiga Miranda um autor lido. Seu livro trata de política.”

O dia 14 de outubro na história

  • 1066 Começa a conquista normanda da Inglaterra com a Batalha de Hastings.
  • 1322 Robert the Bruce derrota o exército inglês, forçando o rei a aceitar a independência da Escócia.
  • 1888 “Roudhay Garden Scene”, o mais antigo filme sobrevivente, com apenas 3 segundos de duração, é filmado por Louis Le Prince na Inglaterra.
  • 1906 Nasce em Linden, atual Alemanha, a filósofa e historiadora germano-americana Hannah Arendt.
  • 1913 O maior desastre da mineração no Reino Unido mata 439 mineiros em Senghenydd, no País de Gales.
  • 1920 URSS e Finlândia assinam o Tratado de Tartu, trocando alguns territórios.
  • 1930 O ex-presidente finlandês K. J. Ståhlberg é sequestrado junto com sua esposa por membros do Movimento Lapua, de extrema-direita.
  • 1933 A Alemanha nazista se retira da Liga das Nações e da Conferência Mundial de Desarmamento.
  • 1943 Os prisioneiros do campo de concentração de Sobibor, na Polônia, matam sob disfarce a maioria dos oficiais das SS do local e promovem uma fuga em massa.
  • 1943 Estabelecida a Segunda República Filipina, Estado-fantoche do Japão.
  • 1947 O capitão americano Chuck Yeager, pilotando um Bell XS-1, se torna o primeiro homem a romper a barreira do som.
  • 1962 Começa a Crise dos Mísseis: um avião americano de reconhecimento fotografa mísseis soviéticos sendo instalados em Cuba.
  • 1964 Martin Luther King Jr. recebe o prêmio Nobel da Paz pelo seu combate à desigualdade racial através da não-violência.
  • 1964 O Comitê Central do Partido Comunista da URSS vota pela remoção de Nikita Krushchev do cargo de líder do país.
  • 1973 Levante popular tailandês de Thammasat: cerca de 100 mil pessoas protestam em Bangkok contra o governo militar; 77 são mortos e 857 são feridos pelos soldados.
  • 1979 Cerca de 100 mil pessoas participam da primeira Marcha Nacional pelos Direitos dos Gays e Lésbicas, em Washington, EUA.
  • 1981 O vice-presidente Hosni Mubarak é eleito presidente do Egito uma semana após o assassinato de Anwar Sadat.
  • 1982 O presidente americano Ronald Reagan proclama a política de Guerra às Drogas.
  • 1990 Morre em Nova Iorque o pianista, compositor e condutor americano Leonard Bernstein.
  • 1994 Yasser Arafat, Yitzhak Rabin e Shimon Peres recebem conjuntamente o prêmio Nobel da Paz pelos Acordos de Oslo.
  • 1994 Estreia nos EUA o influente filme de Quentin Tarantino, “Pulp Fiction”.


* A grafia está atualizada para as normas atuais, à exceção dos nomes próprios

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