Há um Século no CP

Tratado com honras, o agora prisioneiro Honório Lemes chega a Porto Alegre

Da edição do dia 13 de outubro de 1925, terça-feira, n. 243

O célebre caudilho Honório Lemes e seu bando, capturados no interior de Santana do Livramento, foram trazidos para Porto Alegre; o líder do grupo seria mantido na Capital gaúcha, não sendo enviado ao Rio, como era a prática judiciária
O célebre caudilho Honório Lemes e seu bando, capturados no interior de Santana do Livramento, foram trazidos para Porto Alegre; o líder do grupo seria mantido na Capital gaúcha, não sendo enviado ao Rio, como era a prática judiciária Foto : CP Memória

“Chegou anteontem a esta capital, conforme noticiamos, o chefe revolucionário Honório Lemes da Silva, preso pelas forças do general José Antônio Flores da Cunha no dia 8 do corrente, após o combate do Passo da Conceição [distrito de Santana do Livramento]. Honório Lemes veio juntamente com o seu estado-maior, também aprisionado naquele encontro. Vieram todos em trem expresso, sendo tratados com todo o conforto. O Honório Lemes, ao que sabemos, viajou até em vagão-leito. Escoltando os prisioneiros, vinha uma ala do 2º Regimento da Brigada, sob o comando do major Arthur Gomes Mariante. A chegada deu-se anteontem, às 19 horas. Desembarcaram eles em Gravataí, onde, apesar da reserva existente, se achavam numerosas pessoas. Recebeu-os o desembargador chefe de polícia, que ali compareceu, acompanhado do tenente Rocha, comandante do piquete da Chefatura. O desembarque foi feito na melhor ordem, sendo o Honório e seus companheiros, desde logo, cercados de todas as garantias. Em seis caminhões da polícia administrativa, escoltados pelo piquete da Chefatura, foram eles transportados para a cidade.

O Honório, que veio em automóvel de Gravataí até à cidade, foi recolhido ao estado-maior do quartel do 3º Regimento da Brigada, no Cristal. Os demais prisioneiros foram recolhidos à Casa de Correção, ali ficando em sala livre. Ao que sabemos, o Honório ficará nesta capital, não indo para o Rio. Aqui, como aos seus companheiros, ser-lhe-á instaurado o respectivo processo, perante a justiça federal. Informaram-nos que o general Flores da Cunha prometera ao chefe revolucionário ora preso que, para onde ele fosse, também iria seu filho Nollo da Silveira Lemes, igualmente feito prisioneiro. O Honório, segundo soubemos, fez chegar esse fato, por meio de uma carta, ao conhecimento do dr. Borges de Medeiros, presidente do Estado, comunicando-lhe essa promessa do dr. Flores da Cunha. S. Exa., imediatamente, após receber a aludida carta, determinou que Nollo da Silveira Lemes fosse transferido da Correção para o quartel do 3º Regimento. A transferência deu-se ontem à tarde. Tanto o Honório Lemes como os seus companheiros estão todos incomunicáveis. [...]”

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Luta colonial

“Cumprindo praticamente o primeiro ponto do plano de ação do marechal [francês] Pétain e do general [espanhol] Primo de Rivera, por caminhos excelentes e em boas condições, as tropas francesas ao norte de Kifane avançam rapidamente, encontrando-se a cinco milhas de Sisi-Alle Bom-Relika. O objetivo almejado era a tomada desse setor, que colocará os franceses na cadeia das montanhas. Isso constitui o último obstáculo entre as tropas nas planícies, e dessa localidade partem excelentes caminhos que permitem efetuar-se um rápido contato com os espanhóis. Estes últimos avançam para Azib-el-Midar, devendo realizar-se a junção, nesse ponto, dos franceses com os espanhóis, os quais ocuparão quase automaticamente vários milhares de quilômetros quadrados desse território, que jamais foi pacificado, cuja posse permitirá formar uma linha reta que se estenderá de sudoeste para noroeste de Ajder, a 25 milhas da capital do Rif. Ante essa facilidade das operações, explica-se haver Abd-el-Krim [líder rebelde marroquino] retirado as tropas desse setor para lutar com os franceses a oeste de Birbane, em Oneled e Ueazzar. Em Tetuan, está bem estabelecido o serviço militar franco-espanhol. Nesta região está a cidade de Sabk-Hassi-Median, a noroeste do acampamento do general Berteaux, onde as tropas francesas estão em contato com os postos avançados espanhóis da guarnição de Melilla. Devido às chuvas, foram suspensas as operações para desalojar os inimigos de Senadja, no norte de Ainmatone. Notícias aqui chegadas dizem que Abd-el-Krim está preparando um ataque às posições francesas no extremo ocidental. Três mil inimigos dirigem-se para Anazan, sendo que esses mouros estão bombardeando Tetuan, depois de haver colocado a artilharia pesada rifenha no Monte Zetoro sob o comando de Abd-el-Krim. Os mouros fizeram um pedido de cessar o canhoneio, o que não foi concedido. Por tal motivo, continua o êxodo. Os aviadores não tiveram êxito, pelo que não cessou o canhoneio em Tetuan, do Monte Zetoro. Foi enviado para ali um forte destacamento espanhol. [...]”

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Imigração

“A Casa Branca anunciou que o governo não pretende emendar a lei sobre a imigração, sendo contudo possível que haja algumas pequenas mudanças no sentido de tornar mais liberais as cláusulas relativas à entrada dos parentes dos imigrantes que já se acham nos Estados Unidos.”

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Apolinário Porto Alegre

“Antigos alunos de Apolinário Porto Alegre resolveram prestar-lhe justa homenagem. Vai ser erigida uma herma que evoque a memória do saudoso educacionista. Apolinário Porto Alegre é um nome que não pode ser esquecido no Rio Grande do Sul. Durante longos anos de sua existência, dedicou-se ele com o maior e mais patriótico devotamento à tarefa quase sempre ingrata de formar o espírito e o caráter da mocidade rio-grandense. Muitos dos filhos desta terra, que souberam elevar-se e ocupam hoje posições de destaque na vida pública, devem-lhe alguma coisa nessa ascensão. É natural que o não esqueçam; seria injustiça que o esquecessem. Mas Apolinário Porto Alegre não foi apenas um dos nossos maiores educacionistas. Ele foi também um grande agitador de ideias, um pesquisador incessante de coisas rio-grandenses, um escritor corretíssimo, um jornalista vibrante e combativo. A sua obra a respeito do ‘folclore’ gaúcho é a mais importante sobre o assunto e poderia esclarecer utilmente muitos pontos das nossas tradições, usos e costumes. Notável é o seu trabalho sobre poesia popular rio-grandense. Apolinário tem, pois, o direito de ser relembrado em um monumento, embora modesto, que lhe perpetue a memória.”

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Então como hoje

“A propósito do ‘match’ de domingo entre o Cruzeiro e o São José, recebemos a seguinte carta: ‘Ilmo. sr. cronista esportivo do ‘Correio do Povo’. Por intermédio de v. s., desejaria que a diretoria da Apad [Associação Porto Alegrense de Desportos] não consentisse que decisões de juízes como a de ontem, no encontro Cruzeiro x São José, anulando um gol legitimamente conquistado pelo São José, fossem tomadas em consideração. A rapaziada do Zequinha, se esse estado de coisas continuar, não poderá ficar indiferente diante de tanta injustiça. Não é a primeira vez que a equipe da Floresta é prejudicada e sempre acata as decisões superiores, mas, a meu ver, a diretoria da Apad terá que tomar providências, dando como válido o gol conquistado pelo Zequinha, a fim de não embaçar o brilho de pugnas futuras, pois não é sempre que injustiças tais são aturadas. P. Alegre, 12 de outubro de 1925 (a) Pedro Krug’.”


Primeiras edições

Da edição de 12 de outubro de 1895, sábado, n. 11

Marta “La Cantilera”

“A recente revolução do Peru teve a sua heroína, Martha, a vivandeira, que é hoje uma das fisionomias mais populares do Peru. Esta mulher de cerca de 35 anos, de sangue indígena, hipotecou uma pequena casa que possuía em Callau; com o produto, comprou fuzis e revólveres, e foi incorporar-se ao regimento do coronel Oré. A cavalo e vestida de brilhante uniforme, mais amazona que vivandeira, ora era vista em ação na primeira linha, ora junto dos feridos. Na tomada de Chorrillo e no ataque de Lima, a 17 de março, Martha arrebatou com o seu exemplo os soldados de Oré, e, no combate encarniçado que se deu nas ruas de Lima, foi ferida no pé direito.” [Marta Olinda Reyes, “Marta la Cantilera”, atendeu feridos do exército peruano na Guerra do Pacífico (1879-1884) contra o Chile; entre 1894 e 1895 (a “revolução” referida na notícia), participou da guerra civil contra o governo de Andrés Avelino Cáceres, quando foi ferida na perna e obteve o grau de capitã]

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Reforço

Rio, 9 de outubro. “Está sendo esperado o transporte de guerra São Fernando, que vem aqui buscar setecentos espanhóis para engrossar as fileiras do exército que combate a revolução de Cuba.”

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Varíola

“Está novamente grassando com alguma intensidade nesta capital a epidemia da varíola. Sabemos que, por esse motivo, foi anteontem reaberto o lazareto das Bananeiras e nomeado para dele encarregar-se o dr. Eduardo Sarmento Leite, com a gratificação diária de 20$000. Já se acham ali recolhidos um soldado da Brigada Militar e dois outros enfermos removidos da Santa Casa de Misericórdia. É caso para aconselharmos à população da cidade a vacinação e revacinação, medidas preventivas cuja eficácia está hoje universalmente consagrada.”


Primeiras edições

Da edição de 13 de outubro de 1895, domingo, n. 12

Missionários

“A associação protestante ‘Help for Brazil’, que tem a sua sede na Inglaterra, deliberou promover a catequese dos silvícolas que habitam algumas localidades do Amazonas. Nas proximidades da Guiana Inglesa, território litigioso, domiciliaram-se missionários ingleses, que têm sido tão felizes a ponto de encontrar-se ali muitos silvícolas falando inglês.”

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Estrada

“Segundo nos informam, acha-se em lamentável estado a estrada que conduz de S. Sebastião do Cahy a Caxias e Antônio Prado. As intempéries e a prolongada falta de consertos têm tornado intransitáveis esses caminhos. Já fartos de prejuízos e contratempos, os carreteiros que viajam entre S. Sebastião e Caxias declararam-se em greve, suspendendo de todo o serviço de transportes. Lá se acham paradas, entre essas duas localidades, nada menos de sessenta carretas! Como se sabe, Caxias e Antônio Prado estão situadas na rica zona colonial que abastece o nosso mercado de gêneros de primeira necessidade. A continuarem assim as coisas, bem são de prever os prejuízos a esperar-se.”

O dia 13 de outubro na história

  • 1307 Membros da ordem militar dos Cavaleiros Templários na França são presos por ordem do rei Filipe, o Belo.
  • 1821 Proclamada a Declaração de Independência do Império Mexicano.
  • 1822 Morre em Veneza o escultor italiano Antonio Canova, considerado um dos maiores artistas neoclássicos do mundo.
  • 1843 Fundada em Nova Iorque a B’nai B’rith, a mais antiga organização judaica de apoio no mundo.
  • 1884 O Royal Observatory, no distrito londrino de Greenwich, é convencionado como a referência geográfica oficial para o meridiano de longitude.
  • 1908 A sufragista Margaret Travers Symons invade o parlamento britânico e se torna a primeira mulher a discursar no local.
  • 1921 Assinado na cidade turca de Kars o tratado que estabelece as fronteiras entre a Turquia e três repúblicas soviéticas transcaucasianas (Armênia, Geórgia e Azerbaijão).
  • 1922 Nasce em Santos o músico vanguardista, professor e escritor Gilberto Mendes.
  • 1923 Ancara se torna a capital da Turquia.
  • 1925 Nasce em Grantham a política conservadora, química e advogada inglesa Margaret Thatcher, primeira-ministra britânica entre 1979 e 1990.
  • 1938 Morre na Califórnia o cartunista americano Elzie Crisler Segar, criador do personagem Popeye.
  • 1941 Nasce em Newark o músico e compositor americano Paul Simon.
  • 1943 A Itália oficialmente declara guerra à Alemanha nazista.
  • 1966 O presidente Castelo Branco fecha o Congresso Nacional após crise política.
  • 1971 Nasce em Londres o ator e comediante inglês Sacha Baron Cohen, famoso por seu personagem Borat.
  • 1972 Tragédia dos Andes: avião da força aérea uruguaia se choca com as montanhas a 3600 metros de altitude entre a Argentina e o Chile; após 72 dias, 16 dos 45 passageiros sobrevivem.
  • 1978 O Congresso Nacional promulga a Emenda Constitucional n° 11, que revoga os atos institucionais da ditadura, inclusive o AI-5; simultaneamente é aprovada a nova Lei de Segurança Nacional, que garante poderes ao governo.
  • 1988 O escritor egípcio Naguib Mahfouz se torna o primeiro autor de língua árabe a receber o prêmio Nobel de literatura.
  • 2010 Após 69 dias presos no subsolo, 33 mineiros são içados para a superfície em Capiapó, Chile.
  • 2016 O músico americano Bob Dylan é anunciado como vencedor do prêmio Nobel de literatura.
  • 2016 Morre em Milão o dramaturgo, ator, diretor, cenógrafo e compositor italiano Dario Fo, prêmio Nobel de literatura em 1997.


* A grafia está atualizada para as normas atuais, à exceção dos nomes próprios

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