"Gremismo Crônico: glória e fracasso de um torcedor de futebol"

"Gremismo Crônico: glória e fracasso de um torcedor de futebol"

"Mas aí o bizarro aconteceu: um jogador do River Plate, chamado Bressan, entrou em campo..."

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Tiago Magalhães Ribeiro é autor do livro "Gremismo Crônico: glória e fracasso de um torcedor de futebol". Cada capítulo é uma montanha russa de amor, paixão, ódio, sofrimento. Tiago não poupa honestidade. É o retrato mais perfeito da imensa legião que transforma o seu time no umbigo do mundo. Leitura obrigatória.
 Amarga algumas vezes, divertida outras. Amarga e divertida em muitos momentos. Como no relato que faz de Bressan naquele funesto Grêmio 1 x 2 River: "Faltavam 10 minutos, fora os acréscimos, para o fim da partida. Mas aí o bizarro aconteceu: um jogador do River Plate, chamado Bressan, entrou em campo no lugar de Paulo Miranda. Vestindo uma camisa do Grêmio, esse argentino de nome Bressan se posicionou em nossa zaga e passou a trabalhar arduamente por nossa derrota".
Quem, na categoria de louco por futebol, pelo seu time do coração, não se identifica com este texto de Tiago: "Ao longo das décadas de 1980, 1990, 2000 e 2010 apenas vivi minha vida, o que envolve necessariamente altas doses de futebol. Futebol em todas as suas possibilidades: jogado, assistido na TV, no estádio, escutado pelo rádio, futebol de botão, futebol no videogame, álbuns de figurinhas de futebol, conversas intermináveis sobre futebol. Mais do que futebol, o Grêmio. 
Nessas quatro décadas me constituí como um torcedor do Grêmio. Um sujeito lamentável, incapaz de relativizar esse gremismo. Capaz dos mais incríveis esforços dedicados ao acompanhamento intensivo do time do Grêmio, sua escalação, as contratações, as perspectivas, os esquemas táticos. Como se a vida dependesse da manutenção desse tipo de relação de um indivíduo com um clube de futebol. Como se a vida pudesse ser suspensa para o Grêmio jogar. Como se as pessoas tivessem a obrigação de compreender. Um torcedor de futebol."
No que segue, um primor desta divisão entre ódio e amor que invade os loucos por futebol.
"Porque ao fim e ao cabo, voltando para casa após uma derrota, debaixo de chuva, se perguntando por que isso continua se não há qualquer coisa minimamente próxima à felicidade envolvida, ou rolando pelo chão berrando, abraçando desconhecidos, celebrando um título após mais de uma década, o que fica é um torcedor. Um torcedor de futebol. Nada mais minúsculo, mesquinho e cotidiano. Nada mais ordinário. Nada pode ser maior."
Imperdível, o texto derrama esta angústia que é, muitas vezes, ir ao estádio, local se surpresas múltiplas.
“ Quando escrevo isso penso que é ridículo e que não vou mais passar por isso, que não tenho que fazer isso e que está tudo acabado. O Grêmio que se vire sem mim! Mas é só chegar a véspera do próximo jogo em casa e a comichão começa, a sensação de que é preciso fazer algo a respeito, que não posso me desresponsabilizar. E algo me empurra para lá, para o Humaitá. De casacão, cansado, com sono, com fome. Irritado. Receoso. Com medo de fazer tudo isso, tudo que for possível e voltar para casa com uma derrota ou um empate frustrante. Destratado em ônibus e trens. Gastando dinheiro. Esmagado.” 


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