"Há um acovardamento coletivo"

"Há um acovardamento coletivo"

O poder do Flamengo segundo Nelson Rodrigues

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Olá, Hiltor:

A propósito da carta do Marum, publicada em tua sempre famosa coluna, eu te repasso um texto do Nelson Rodrigues, de quem nós dois somos fãs de carteirinha, se não estou enganado. Por mim, assino embaixo. 

Olha só o que ele, Tricolor doente, escreveu na data dos SESSENTA ANOS do Flamengo! Hoje, já dobrou a idade. Mas, repara o que já era o Flamengo perante os olhos dos outros clubes. Eu estou falando de novembro de 1955, revista Manchete Esportiva, em sua edição número um:

"Para qualquer torcedor, a camisa vale tanto quanto a gravata. Para os rubro-negros, não. Para o Flamengo a camisa é tudo. Já tem acontecido muitas vezes: quando o time não ajuda e vai mal, a camisa é içada e desfraldada por invisíveis mãos. Adversários, juízes e bandeirinhas tremem da cabeça aos pés. Até os narradores mudam o tom de voz nos microfones. Há uma intimidação geral, um acovardamento coletivo ao ver a bandeira preta e vermelha. Há de chegar um dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa exposta no gramado. E diante do furor impotente do adversário do momento, a camisa rubro-negra haverá de ser uma bastilha inexpugnável".

    Traduzindo: há meio-século o Flamengo já decidia resultados e títulos com a "camisa". Ou seja: com a sua força, com seus apaniguados. Como pretender derrubar essa mística nacional num tribunal? Fica, porém, o estigma do texto. Ele diz tudo.

    Meus abraços!

Chico Michielin


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