Invadido pela síndrome do coitadismo

Invadido pela síndrome do coitadismo

Com o Ano-Novo chegando começo a fazer as minhas projeções futebolísticas para a próxima temporada

publicidade

Sou um obsessivo confesso. Tenho um apego excessivo a sentimentos do passado. Alguém dirá que sou um saudosista. Talvez. Um saudosista obsessivo pelo pretérito. Já citei aqui mesmo mais de uma vez uma frase de uma crônica de Nelson Rodrigues:
"O patético de nossa época é que o passado se insinua no presente e repito: a toda hora e em toda parte, a vida injeta o passado no presente. Olhem em torno e vejam. É terrível. O passado irrompe numa gravata, num gesto, num sapato ou num colarinho. Estamos usando os bigodões dos nossos avós. Há sujeitos que se vestem e calçam como os nostálgicos defuntos familiares."
Lendo a "Análise Econômico-Financeira dos Clubes Brasileiros de Futebol", relatório feito pelos profissionais do Itaú BBA e baseado em informações públicas como balanços, por exemplo, concluo, sem espanto, que sou um adivinhador. Penso comigo mesmo "eu sabia, eu sabia, eu disse, eu disse". 
FALSA IDEIA
Está no importante e esmiuçado relatório: "Ou seja, por mais que haja uma ideia de que o Brasil tem muitos candidatos ao título, ela é menos real do que parece quando tratamos das conquistas efetivamente. Foram maiores nos períodos em que o campeonato era disputado em sistema eliminatório, onde o imponderável é mais presente. Em campeonatos longos o efeito financeiro tende a se sobrepor, mesmo que este efeito esteja associado a clubes com gastos acima das suas capacidades."
100 ANOS
O amigo que me acompanha nesta coluna há de lembrar que de forma obsessiva venho pregando desde 2003, quando do advento do Brasileiro por pontos corridos, que não veríamos Grêmio ou Inter campeões pelos próximos 100 anos. 
Escrevi, e repito, alguns dos meus motivos. Por esta abundância de emoções, pela fome ofensiva, pela negação do futebol retranqueiro, sou um apaixonado pelo sistema mata-mata. Só a Copa do Brasil nos fornece combustível assim. Vejam: enquanto o Brasileiro amontoa jogos sonolentos, a Copa do Brasil é nitroglicerina pura. Os mesmos jogadores que dormem em campo durante o Brasileiro voam na Copa do Brasil. A metamorfose atinge principalmente os torcedores. 
MATA-MATA
Todos sabem que sou favorável ao sistema mata-mata e sei que estou na contramão da maioria. Como bairrista convicto, quero ver outra vez um time gaúcho campeão. Quero uma fórmula que imite o Brasil: quanto mais injusta e formulista, melhor! Todos sabem que querer não é poder e que vou ficar querendo.
Com o Ano-Novo chegando começo a fazer as minhas projeções futebolísticas para a próxima temporada. Nesta hora sou invadido pela síndrome do coitadismo. 
Quero morder a língua, mas acho que Inter e Grêmio serão coadjuvantes no longo e enfadonho Brasileiro por pontos corridos de 2020. Meu sentimento é reforçado pelo estudo do Itaú BBA: 
PREVISÕES
"Quando se falava em “espanholização” pensavam que a TV seria o responsável por isso, mas foi a gestão e a capacidade de organização que criaram esse precedente ruim para dirigentes amadores: boa gestão é a salvação. No médio prazo é possível que alguns clubes de aproximem de Flamengo e Palmeiras e transformem nosso futebol num ambiente com um pouco mais de competição. No curto prazo, só os erros de gestão esportiva tiram de Palmeiras e Flamengo o favoritismo..."
Acho, por achômetro e por intuição, que a dupla Gre-Nal vai repetir o ano que está terminando. Grêmio e Inter disputarão a final do Gauchão e, obviamente, um dos dois será o campeão doméstico. Por um motivo simples: não há concorrência. Embora volta e meia apareça um time como o Novo Hamburgo para surpreender.
Acho, por achômetro e pouca convicção, que Grêmio e Inter podem ir longe na Copa do Brasil, inclusive decidindo a taça, e que podem fazer boa figura na Libertadores. Resumo da ópera: Inter e Grêmio entram com chances em torneios de mata-mata. Por pontos corridos, não serão adversários. Brigarão pelo G-4 e vá lá. 
Nesta semana o presidente do Inter, Marcelo Medeiros, concedeu entrevista para o Correio do Povo. Retiro trecho do que disse o dirigente colorado:
“Não acredito nesse negócio de 'espanholização'. O país é muito grande, é continental. Ninguém vai ganhar ou perder para sempre. O Cruzeiro teve uma época muito vitoriosa, o São Paulo teve, o Inter ali entre 2006 e 2010. O Corinthians vai apresentar uma dívida de mais de R$ 150 milhões. E não tem nada do estádio. A dívida do estádio passa de R$ 1 bilhão. Essa conta, o dia que for cobrada, vai ter que ter muita televisão...
...O Flamengo nunca viveu o que está vivendo. Conheço flamenguistas de 40 anos que não sabem o que está acontecendo, porque realmente o Flamengo fez um timaço, uma seleção...” Verdade.  Ninguém vai ganhar ou perder para sempre. Mas depois do advento do Brasileiro por pontos corridos, Inter e Grêmio não conquistaram mais taça. No tempo do mata-mata, levantaram cinco.
Feliz Natal. 


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895