Racismo vergonhoso e sem fim

Racismo vergonhoso e sem fim

A manchete é esta: "Repórter do UOL vira 'macaco' em grupo de torcedores argentinos".

Hiltor Mombach

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A manchete é esta: "Repórter do UOL vira 'macaco' em grupo de torcedores argentinos".
O fato: o jornalista foi entrevistar um argentino para falar da escalada da violência entre as as torcidas do Brasil e da Argentina.
Acabou "transformado" em macaco em montagem feita por torcedor argentino.
Há 28 anos, em uma semifinal olímpica, o jornal argentino "Olé", especializado em esportes, estampou em sua manchete uma provocação à seleção brasileira de futebol:
"Que venham os macacos"
Thomas Elliot Skidmore é um historiador norte-americano.
Além de escrever sobre América Latina, é especializado em temas brasileiros, um assim chamado brasilianista.
É autor, entre outros livros, de Uma História do Brasil, uma síntese da história brasileira.
Recomendo.
O trecho abaixo é de uma coluna escrita por mim no Correio do Povo vai tempo.
"Na campanha paraguaia, o Exército brasileiro engrossou suas fileiras com escravos negros.
Os paraguaios contra-atacaram lançando calúnias racistas sobre os invasores chamando Pedro II de "El Macacón".
Thomas Skidmore relata isto em ’Uma História do Brasil’, já tratando o fato como ’calúnias racistas’.
Não vai muito tempo, os jornais argentinos abusavam de chamar os brasileiros de ’macaquitos’.
Não sei se tal artifício contagiou ou contagia los hermanos.
Em 2005, depois atacar de forma racista Grafite, Desábato promoveu esta singular frase: ’Insultar é uma coisa comum na Argentina’.
Na Argentina, pode ser.
Mas alguém deveria ter dito a Desábato que no Brasil racismo dá dor de cabeça e até cadeia.
Antes de minhas viagens internacionais, tenho por hábito ler sobre os costumes do país onde irei trabalhar, saber o que ofende aquele povo, dos rigores da lei em caso de infração.
Se os jogadores não buscam tais informações, espera-se que o séquito que os cerca tenha tal cuidado.
Quem afirma que num campo de futebol os jogadores se xingam, se beliscam, se chutam, que ali se encena uma guerra, e numa guerra vale tudo, como justificativa para um ataque racial, deveria levar em conta o sentimento do ofendido.
A caminho do vestiário, chocado e abatido, Grafite se recusou a confirmar se Desábato teria dito ’alguma coisa de cunho racista’, nas palavras do um repórter: ’Não vou nem comentar para não dar ênfase’, afirmou.
Para alguns, ele deveria calar.
Pergunto: quem, quando ofendido, cala, podendo, escancarar sua revolta?


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