Às vésperas da Feira do Livro

Às vésperas da Feira do Livro

Gabinete de curiosidades e outros

publicidade

A Feira do Livro de Porto Alegre está chegando. Tenho recebido muitos livros que merecem ser lidos e aplaudidos. Cito alguns: “Duas formações, uma história – das ideias fora do lugar” (Arquipélago), de Luís Augusto Fischer. “Beatles, do moderno ao pós-moderno – comunicação, visual, sedução, imaginário social e cultural, mito” (Metamorfoses), de Maria Teresa Jorgens Bertoldi. “Plural de fêmeas” (Class), de Sinara Floss. “Segredos da rua Mundo” (Metamorfoses), da minha querida ex-colega Neusa Demartini. “Entregador de pressa” (Caiaponte), de Marlon de Almeida. “Dia de amar a casa” e “Manuscrito do fogo – antologia poética” (Ar do tempo), ambos de Mariana Ianelli. “Não abrir os olhos” (Ardotempo), de Alfredo Aquino. “Paisagem marinha” (Memorabilia), de Vitor Biasoli. “Décima de Bento Garcia, o gaúcho perseguido e sitiado” (Martins Livreiro), de José Nelson Corrêa. “Control M, mulheres no controle, contos do cotidiano”, de Ricardo Hoffmann. Algumas editoras estão na estrada há tempos. Outras são novas. Escrever e publicar está na ordem do dia. Bravo!
*

Estou lançando meu novo romance, “Memórias no esquecimento”, história de um homem devorado pela perda da memória. Leandro Minozzo, médico geriatra e autor do livro “Doença de Alzheimer: como prevenir”, aceitou fazer a orelha. Não posso deixar de compartilhá-la aqui:
“Eu quero envelhecer e decidir por mim. Não só quero conseguir abrir qualquer uma das gavetas que formam minha memória, mas saber escolher a correta. De preferência, manter o interesse e a capacidade de admirar cada novo som, imagem ou gesto e, de maneira despretensiosa, continuar preenchendo novas gavetas. Não me importo se precisarei anotar tudo num caderninho e passar a limpo no final do dia. Quero que essa voz que conversa comigo mesmo se mantenha. Desejo viver, lembrando.
Falar sobre memória é muito mais do que dissecar estruturas neuronais, sinapses, monoaminas neurotransmissoras, avaliar performance em testes cognitivos ou explanar sobre as demências. É sobre quem somos, como enfrentamos batalhas na infância, como resgatamos as histórias marcantes, aqueles momentos de encanto ou então de busca por um canto, um silêncio para chorar e recomeçar. Cores nos céus e nos lábios, lugares, afetos cúmplices, personagens recordados com traços caricatos; cada fragmento forma o todo que nos constituí. Memória poderia vir do latim e significar, tranquilamente, riqueza, tesouro, mosaico, caleidoscópio ou amparo.
Em tempos nos quais o Alzheimer é tema cotidiano e atinge cada vez mais pessoas, a arte mergulha no esquecimento. Situações tristes que rodeiam dramas familiares e paixões que resistem ao desgaste e acabam por vencer o esquecimento são roteiros que apresentam aos desavisados o que pode acontecer com todos nós. Quem garante o contrário?
Nesse romance, o pensador e escritor Juremir Machado da Silva lança mão de potentes recursos literários ao mergulhar no esquecimento de seu protagonista. Constrói uma narrativa com detalhes ora poéticos, ora realistas, testemunhos de sutilezas do cotidiano de uma pessoa fragilizada. Fala também de vivências comuns, como o andar de bicicleta até perder o fôlego, o amor de um cachorro de estimação pegado ainda filhote, os mistérios familiares e as ilusões que se carrega ao longo da vida. Impossível não querer descobrir as peças do quebra-cabeças da história – assim como não parar e se pegar pensando sobre o conjunto de suas próprias lembranças, identificar as paredes do próprio castelo.
Na esteira de suas obras sobre a filosofia da felicidade, nas suas recordações da infância no Pampa gaúcho e na intricada produção de biografias historiográficas - carregadas de relatos e de lembranças -, Juremir, especialista na complexidade e no imaginário, acerta, envolve e provoca. Um romance corajoso, que revela, sem assustar, o porto seguro desses fragmentos de percepções individuais, a memória, e sua tormenta, o esquecimento.”
*
    O médico e ficcionista Gilberto Schwartsmann mostra a face de poeta em “Gabinete de curiosidades”, a ser lançado neste dia 27.
Por que escrever?
Porque a vida é uma só
E eu a quero descrever.

Eu invejo os escritores
Que vivem vidas não vividas,
Mentiras e amores.

Escrever é amar,
Inventar, viajar!
Ser sadio de dia e à noite louco!

Eu sempre quis mais de uma vida,
A minha e a dos outros,
Porque a própria vida é pouco.
*
    Como já dizia o cronista Machado de Assis para quem quisesse ler: “De todas as coisas humanas, dizia alguém com outro sentido por diverso objeto, — a única que tem o seu fim em si mesma é a arte”.

 

 


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895