A malandragem dos empresários de ônibus

A malandragem dos empresários de ônibus

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A regra do jogo é simples: a cada ano os funcionários, na época do dissídio da categoria, apresentam suas reivindicações.

Os patrões são obrigados a negociar.

Ultrapassada essa etapa, concedido o aumento, sacramentado o acordo, os padrões pedem aumento de tarifa.

O prefeito municipal é obrigado a posicionar-se.

Neste ano, os donos de ônibus não querem se manifestar. Foram acometidos de uma súbita síndrome de discrição.

Por quê? Porque esperam o TCE definir a regra do jogo.

Se o TCE decidir contra os interesses deles, vão fincar pé e tentar reduzir ao mínimo o reajuste salarial. Ou, até mesmo, a coisa alguma.

Até agora, ofereceram R$ 1 no vale-refeição.

Essa enormidade poderá levá-los à falência.

Chega a dar pena.

Pelo relatório do TCE, em 2011, o faturamento total das empresas foi de R$ 481,4 milhões. Quanto foi para o bolso dos empresários depois de descontados todos os seus custos? Bagatelas de alguns milhões. a SOPAL teve um lucro líquido de R$ 3,1 milhões. A Sudeste embolsou R$ 4 milhões de lucro líquido. Que triste negócio? Como prosperar com tão pouco? Deve ser por isso que os empresários se recusam a meter a mão no bolso.

Como se diz que por trás das aparências a maioria dos lotações pertence a donos de ônibus, muitos estariam deixando de carregar passageiros a R$ 2.80 e tendo de fazer o sacrifício de carregá-los em lotações, com carga máxima, inclusive em pé, a R$ 4.20.

Se depender de alguns empresários subitamente sem pressa, essa greve vai até o dia 12 de fevereiro, data em que o TCE dirá o que pensa.

Eles não fazem proposta decente, mas quem leva multa, por decisão judicial, são os rodoviários, esses seres insensíveis aos interesses de todos.

A greve prejudica a população, que se exaspera, e ganha o ódio da mídia conservadora. Cresce a simpatia pelas perdas dos pobres empresários. Onde já se viu: são obrigados a dar aumento aos funcionários sem ter certeza de que poderão repassar tudo para os usuários!

Não se sabem de poderão computar no cálculo do reajuste da tarifa o desgaste dos pneus dos ônibus que ficam parados.

Eu perco o sono de penas dos donos de ônibus.

Que atividade cruel!

Por que não largam?

Por que não querem licitação?

Por que se apegam tanto a esse negócio ruim?

Não tenho respostas. Deve ser por altruísmo.

No dia de Nossa Senhora de Navegantes o ônibus é de graça.

Talvez os empresários não se importem que a grave continue até lá.

Eu, no lugar dos rodoviários, faria uma exceção, interrompendo o movimento por um dia. A causa é boa. E seria abençoada.

A população pode ajudar a construir a solução: basta se unir aos rodoviários.

Talvez a justiça compreenda quem está emperrando o fim da greve.

Uma multinha de R$ 200 mil por dia faria a ATP circular.

E quem sabe as empresas privadas seguem o exemplo da Carris chique,  pois tem também a brega, e colocam ônibus realmente confortáveis.

A Carris é a melhor empresa da cidade, subsidiada como é o transporte público em boa parte do mundo desenvolvido. Melhor subsidiar o transporte público de qualidade do que pagar altas taxas de administração, sob o rótulo de lucro, a empresários que oferecem serviços ruins e remuneram mal.

 

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