Ainda o manifesto dos jogadores

Ainda o manifesto dos jogadores

Estrelas da seleção deram à luz um suspiro

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      Como se costuma dizer nesse tipo de circunstância, a montanha pariu um rato. Os jogadores da Seleção Brasileira, depois de bater o Paraguai pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2022, divulgaram o tão esperado manifesto sobre a Copa América. O que se fica sabendo? Nada. Eles estavam insatisfeitos com o que mesmo? O manifesto não esclarece. O que mudou? Rogério Caboclo, presidente da CBF, acusado de assédio sexual e moral, está afastado por 30 dias. Imaginava-se que a insatisfação dos atletas tivesse a ver também com a realização da Copa América no Brasil durante esta pandemia sem fim. Nada esclarecido.

      Por um momento imaginou-se que esses jovens ricos e famosos sairiam da bolha de alienação em que vivem e mostrariam comprometimento social. Chegou-se a pensar que se recusariam a disputar a Copa América para não acentuar o risco de novas contaminações. O manifesto é um gol contra com frases triviais: “Por fim, lembramos que somos trabalhadores, profissionais do futebol. Temos uma missão a cumprir com a história da camisa verde amarela pentacampeã do mundo. Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à seleção brasileira”. Por que não? Ela merecia.

      Os rapazes fizeram ar de rebeldes e encerraram a polêmica como bons e obedientes meninos que só dizem sim. O núcleo do manifesto diz: “É importante frisar que em nenhum momento quisemos tornar essa discussão política. Somos conscientes da importância da nossa posição, acompanhamos o que é veiculado pela mídia e estamos presentes nas redes sociais. Nos manifestamos, também, para evitar que mais notícias falsas envolvendo nossos nomes circulem à revelia dos fatos verdadeiros”. Como não tornar política uma questão política? Quais são os fatos verdadeiros? A turma prometeu uma goleada e ficou no empate. Os tempos da democracia de Casagrande e Sócrates não voltaram.

      A hipótese mais provável para a insatisfação dos jogadores nada tem de interessante: os “europeus” não queriam perder as férias. A repercussão negativa dessa posição pouco política fez a galera mudar de ideia. Melhor jogar. Poderiam ter dito que não enxergam diferença entre jogar Copa América e eliminatórias. Seria um argumento, não uma solução. Preferiram ficar no vazio. Dá para imaginar quantas horas de reunião com um assessor de imprensa para escrever uma nota tão insipida. O nebuloso exige arte. Como nada dizer em algumas linhas tão esperadas. Casemiro, o líder do movimento, numa entrevista, parecia um leão rugindo contra a estrutura. O repórter queria saber qual era mesmo a posição dos jogadores. De cada fechada, Casemiro reafirmava: “Todo mundo sabe”. Ninguém sabia claramente. Continuamos sem saber.

      Houve um tempo em que manifestos mudavam o mundo, rompiam tradições, abriam espaço para o novo. Entramos na era dos manifestos que nada manifestam, salvo uma vaga indisposição para certas tarefas que muito bem poderiam ser adiadas ou canceladas. Manifestação feita, agora só falta uma reportagem revelar o que os caras queriam mesmo. Poucas vezes se viu algo tão pífio, vazio, oco. Até parece nosso futebol atual, que ganha dos vizinhos, mas apanha dos europeus,

 


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