Casas, especialistas, futebol, manifestantes

Casas, especialistas, futebol, manifestantes

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Tudo que é humano não me é estranho, dá disse um luminar.

Tudo que faz parte do cotidiano merece a minha opinião, digo eu.

A modernidade inventou o especialista: um grileiro que tenta colocar arame farpado em volta de assuntos gerais para deles se apropriar.

É o carteiraço.

Eu não aceito.

Falo de tudo.

A maioria dos assuntos exige duas horas de estudo para que qualquer cidadão possa opinar judiciosamente. Pode errar ou acertar. Como os especialistas.

Aceito especialistas em cardiologia, em energia atômica, etc.

Na maioria dos casos, o especialista é um usurpador.

Saladas de assuntos:

– A especulação imobiliária, maior inimiga do esquálido patrimônio arquitetônico de Porto Alegre, quer derrubar duas belas casas no Moinhos de Vento. Elas não estão tombadas. Deveriam. A mobilização contra a derrubada é grande. Apoio. É verdade que, em outros casos, o mesmo pessoal fashion não se mobilizou. Por exemplo, quando da tentativa de fazer janelinhas privilegiadas no Pontal do Estaleiro. A turma chique silenciou. Como um erro não justifica outro, engrosso as fileiras em defesa da preservação do belo.

– As ações policiais nas casas dos líderes do Bloco de Lutas, Mateus Gomes e Lucas Maróstica, constituem clara tentativa de constrangimento político a dois ativistas considerados indigestos. Se não era essa a intenção, foi o que pareceu. Atitude digna de tempos de ditadura militar. Gesto que tenta abertamente criminalizar movimentos sociais e punir aqueles que atrapalharam a ordem econômica, política e social dominante. Investigar é preciso. Mas a ação foi bem além disso. No reino das aparências, revelou-se um obscurantismo.

– Assinei pela criação da Rede de Marina Silva. Assinar não é filiação. Mas se o número de assinatura válidas não tiver sido alcançado, salvo se puder se provar que os cartórios armaram contra a ex-senadora, o partido não deve nascer. Ou existe um número de assinaturas previamente fixado a ser alcançado ou vale tudo. A lei, no Brasil, está sempre diante da exceção.

– É verdade que ver surgir o PROS e o Solidariedade do Paulinho da Força, cuja necessidade só se consegue imaginar por analogia com a ida ao banheiro, e ficar na casca o partido da ecologista Marina Silva é dose para eleitor.

– Fulano não é técnico. O importante não é ser técnico. É tornar-se. Ninguém é antes de ser. Renato Portaluppi está se tornando um bom técnico. Na necessidade, passou a jogar sem meias. Funcionou. O seu esquema tem regularidade: a base são os três volantes, que podem se articular com três zagueiros ou com três atacantes. A variação depende da disponibilidade dos jogadores adequados para o ataque. O time marca forte e explora o erro adversário. Tem vencido. Renato fez uma frase circular: esquema bom é o que ganha. Não tem como errar. E quando perder como fica? Deixa de ser bom. O ideal é ganhar de goleada jogando bem. Renato é pragmático: se não é possível ganhar de goleada jogando bem, melhor ganhar jogando mal.

– Todo comentarista deve ser um pouco comentarista de resultado. Não pode ser de um resultado só, de um jogo só, mas precisa ser comentarista de conjunto de resultados, pois o jogo existe para o espetáculo e para o resultado. Pode-se suportar um mau resultado, alguns maus resultados, mas não muitos. Eu sempre quis Dunga como treinador do Inter. Ele está fazendo um bom trabalho. Mas não pode mais acumular maus resultados. Ou terá de sair.

– O melhor comentarista de futebol do Brasil é Tostão. Ele fala com pertinência, elegância e capacidade de adaptação conceitual. Sabe que as funções evoluem, conservando, às  vezes, o nome, mas alterando a definição topográfica inicial. Outro dia, Tostão escreveu: "Todo time precisa de um centroavante, o que não significa que tenha de ser, obrigatoriamente, alto, forte, estático e só para fazer gols. Messi não é um falso centroavante. É o centroavante do Barcelona, por jogar mais adiantado e pelo centro".

Pão, pães, opiniões, opiniães, disse o escritor.

Ou o povo?

Fecho com Tostão.

– Hoje, 3 de outubro, é dia de lembrar da vitoriosa Revolução de 1930, comandada por gaúchos, que mudou o Brasil com Getúlio Vargas. Muito mais importante do que a derrotada e comemorada Revolução Farroupilha.


A vida é como um lusco-fusco na pequena cidade. De repente, na penumbra, brilha uma luz mais forte. Ela pode iluminar o caminho ou cegar para sempre.

O caminhante não só se faz na caminhada como nela se perde.

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