Como um pássaro na solidão

Como um pássaro na solidão

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Legado

 

O que entregaremos ao futuro

Um mundo maduro e sem poetas

Um arenoso deserto de imagens

O homem na plenitude do escuro?

 

Não sei as respostas que me espreitam

Sei que fui menino numa foto desfeita

Colhia frutas vermelhas na mata espessa

Via a curva do arroio como um aguaceiro

Cada raio de sol me acendia um vespeiro

 

A infância é que me recebe na velhice

Um lençol de águas numa vazante estreita

Fantasmas, cavalos, pandorgas, vogais

E os meus sonhos pendurados em varais

 

Colecionei espantos, medos e lápis de cor

Aos que vieram depois de mim ficará o luar

Essa abstração da luz na imensidão da noite

E a certeza de que só matei aula para voar.

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Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895