Confissões e erros

Confissões e erros

Ansiosamente em dúvida

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Admito que não sei:

Não sei o que me deixa louco

Por saber tão pouco sobre mim,

Este ser que construí e desconheço

Quando desperto do avesso.

Confesso que errei

Quando corri pelo deserto

Em busca do paraíso perdido.

Não sei fazer o mínimo,

Descascar pêssego, colher avencas,

Limpar as lentes, usar o controle remoto.

Errei querendo ser o máximo,

Não sei com quantos paus se faz uma canoa

Errei lançando meus navios em guerra

Não sei quanta água havia na lagoa da minha infância

Errei deixando para trás o cheiro de terra molhada

Não sei mais o valor do Pi

Muito menos para que ele serve,

Ouvi dizer que a história mudou

Derrubando estátuas de escravagistas

E de outros heróis assassinos

Errei quando não vi o cavalo passar encilhado

E fui colher figos sob a chuva da madrugada

Tenho saudades da nossa cama

Me lembro de certa dama que passava

Não sei por onde andei quando errava.

Sou do tempo em que a poesia fazia estrago.

 


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