Confronto eleitoral em Porto Alegre

Confronto eleitoral em Porto Alegre

Direita versus esquerda

Vista aérea de Porto Alegre.

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      Não existe terceira via em política. É esquerda ou direita. O que cabe em cada um desses rótulos? Muita coisa. É como amor: ninguém consegue definir, mas todo mundo sente o que é. Durante muito tempo, a direita fartou-se dizendo que esse negócio de direita e esquerda estava ultrapassado. Quanto mais à direita, mais o político fazia esse discurso. Em seguida, batia na esquerda que não existia mais. Aí veio uma nova onda e a direita que anunciava o fim da polarização entre direita e esquerda passou a orgulhar-se de ser de direita. O sujeito agora bate no peito e grita: “Eu sou de direita, eu sou a direita”.

      Ressuscitou. O centro no Brasil nunca fica em cima do muro. Tem lado. Cai para a esquerda ou cai para a direita. Findo o primeiro turno, tudo se acomodou no comboio eleitoral de Porto Alegre. A direita enfileirou-se inteira atrás de Sebastião Melo. O PSDB, que se vê talvez como centro, embora tenha nascido de uma costela de esquerda e seja visto por muitos como de direita, foi o último a chegar. Já está acomodado. A esquerda tomou assento atrás de Manuela d’Ávila. Na televisão, Juliana Brizola (PDT) e Fernanda Melchionna (PSOL) juntaram-se à adversária de dias antes. Esse é o jogo. Em São Paulo, depois de 14 anos, velhos amigos transformados em adversários, reuniram-se para apoiar Guilherme Boulos: Lula, Ciro Gomes, Marina Silva e Flávio Dino. A política separa, a eleição junta. Vida segue.

      Nunca falta baixaria. A campanha em Porto Alegre teve cobras e lagartos. Melhor dito: mais cobras que lagartos. Nas redes sociais, sangue e lama. Cada um com a sua modulação. Campanha ideológica, promessa de gestão sem ideologia. As propostas estão na mesa. O eleitor pode escolher com fartura de informações. Há uma fatia a ser resgatada, a dos que não foram votar no primeiro turno. Por que não foram? Por medo do coronavírus, por desinteresse e por horror à política. Acontece que o resultado da política é como gripe: todo mundo pega algum dia. Melhor ajudar a decidir do que receber pronto. Política não é pizza. Melhorar preparar a sua e não pedir de longe.

      O eleitor pode escolher comparando propostas para casos concretos: o que cada candidato pretender fazer: a) com a Carris, b) com o Mercado Público, c) com os parques e praças da cidade? Pode também optar por critérios mais diretos: quem é a favor de parcerias público-privadas? Quem são as promessas para saúde e educação? Cada um sabe onde lhe aperta o sapato. Os debates ajudaram a esclarecer alguns pontos. Um tema central foi o das fake news. Um lado acusou o outro de espalhar inverdades. Nessas horas tudo é canela. A terceira via deverá ser inventada algum dia. É mais demorada do que vacina contra coronavírus. Talvez demore por não ser desejada. É só retórica.

      Montesquieu (fica charmoso encerrar com “Do espírito das leis”) invoca as musas: “Sinto que me inspirais, não o que se canta em Tempé nas flautas ou o que se repete em Delos com a lira; quereis que fale à razão: ela é o mais perfeito, o mais nobre e o mais delicado de nossos sentimentos”. Pobre Montesquieu, nada sabia sobre o marketing.


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