Contra todos os partidos

Contra todos os partidos

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Eu tenho um problema grave. Li muito Edgar Morin. Sempre quero nuanças e complexidade. Para mim, PT e PSDB são as famosas duas faces da mesma moeda. Sou contra os dois. O PSDB fez uma coisa boa: estabilizou, a partir do governo de Itamar Franco, a moeda. O PT fez uma coisa boa: a ampliação das políticas sociais. De resto, são iguais nas mentiras, nas dissimulações, na venda de ilusões e nos estelionatos eleitorais. A irmandade de PT e PSDB se dá pelos mensalões petista e tucano. PP e PMDB dispensam comentários sobre suas incríveis tendências ao fisiologismo e ao envolvimento em toda sorte de situações nebulosas. O DEM tem vasta folha de péssimos serviços prestados ao país desde quando era Arena e pilar da ditadura.

Siglas como PSD, Solidariedade, PTB, PROS, PTdoB, PHS e PPS são quase cômicas.

Ao PT só falta o cachorro Capeto e o cavalo Herói: é um espectro, um fantasma, um espírito que cambaleia pelos corredores da república assombrando a si mesmo e aos seus antigos admiradores. Morreu. Só falta a pá de terra derradeira. Não passa de um fantasma que cheira mal. Só um ingênuo pode acreditar que a solução para tornar o ar brasileiro novamente respirável seja o PSDB. Em tempos extremos, propostas extremas. Em tempos absurdos, propostas absurdas: dissolução de todos os partidos brasileiros, impugnação de todos os nomes de políticos envolvidos em casos de corrupção, e criação, em seis meses, de novas siglas. Se eu tivesse de gritar fora, numa manifestação, gritaria Fora, Lula! Fora, Aécio! Fora, Dilma! Enquanto nada se prova contra a presidente, fora dentro de três anos e meio. Se algo for provado imediatamente, fora agora mesmo.

A diferença entre impeachment e golpe é a prova jurídica de um crime cometido.

Dilma e o PT enganaram os eleitores para a reeleição da presidente. A Constituição brasileira não prevê impeachment por isso. Deveria. Os tucanos, que se acham reis da racionalidade, da modernidade e do planejamento, deixaram São Paulo sem água. Estão no poder há 20 anos. Não me digam que foi Deus. Não me acusem de ser petista. Acusem-me de não ser antipetista. Melhor mesmo é me acusar de ser a favor de políticas sociais, contra a corrupção de todos os partidos e legalista. Só aceito a aplicação do que está literalmente escrito na Constituição. Sou contra hermenêuticas abusivas. Estou com Umberto Eco: muitas interpretações são possíveis, mas não todas. Nada mais patético do que FHC, cujo procurador-geral arquivou toda e qualquer denúncia, pedindo a renúncia de Dilma. Os tucanos ainda precisam explicar aos brasileiros a compra da emenda da reeleição.

Dilma mereceria cair pelas mentiras que contou. Torço que encontrem uma prova contra ela. O problema não é a política. É como a política está sendo feita no Brasil por muitos políticos. Os tucanos, por exemplo, não parecem preocupados com honestidade. Estão preocupados com uma briga interna. Aécio quer a queda de Dilma para tentar ser candidato agora. Em 2018, pode ser engolido por Alckmin. Serra virou agente das velhas multinacionais interessadas no petróleo brasileiro.

Voltamos a 1953. Sou contra todos. Dom Quixote soy yo.

Onde andará meu cavalo Rocinante?

Perdi-o depois de um tombo.

 

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