Da vacina à educação na Finlândia

Da vacina à educação na Finlândia

Só a ciência abre caminho

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      E o Brasil vacinou! Com a vacina do Butantan. No Rio Grande do Sul, essa vacina tem nome e sobrenome: infectologista Fabiano Ramos e Hospital da PUCRS. Esses foram os parceiros do Instituto Butantan desde o primeiro dia de aposta, planejamento e testagem. A ciência abre caminho para o sonho da normalidade. Falar em ciência remete a educação e seus métodos. Por isso, no calor das polêmicas, falarei da Finlândia. Por lá, educar para a igualdade é a regra.

Não fosse o frio, salvo para quem gosta, tem gosto para tudo, inclusive para o calor, como o meu, Finlândia, Noruega, Suécia e Dinamarca seriam os lugares ideais para viver. São Estados do Bem-Estar Social, socialdemocracias, hábeis em conciliar livre iniciativa e participação do Estado para defender o interesse coletivo. Fazem quase sempre o contrário do que o neoliberalismo recomenda e funciona. A Suécia é maior, com cerca de dez milhões de habitantes. As outras andam pelos cinco milhões e meio. Neoliberais preferem elogiar Singapura e Coreia do Sul, que alcançam ótimo desempenho econômico e educacional. Singapura, no entanto, está longe de ser uma democracia de acordo com a definição ocidental atual. É um simulacro.

      A Coreia do Sul tem viés disciplinar na educação. Formaria robôs competitivos. Mas é infinitamente melhor do que a Coreia do Norte. A comparação não tem cabimento, pois aí já se trata de uma ditadura. A Finlândia vai muito bem em educação, com ensino público, menos horas de aula que a média mundial e nada de dever de casa. As crianças vão para a escola aos sete anos de idade. Não há provas padronizadas. Nem reprovação nos primeiros anos de estudo. Estuda-se Paulo Freire na Finlândia. Os especialistas finlandeses consideram que a base de tudo é o combate à desigualdade social e igualdade real de desenvolvimento. Outro ponto essencial: escolher os melhores professores e dar-lhes bons salários. Ao final do ciclo de nove anos há o Exame Nacional de Matrículas, com questões dissertativas.

      O tempo inteiro estimula-se a refletir sobre cidadania, felicidade, política, cultura. A BBC tem feito reportagens sobre o “case” finlandês. A brasileira Cláudia Wallin foi lá conferir. Na verdade, não há divisão entre ensino fundamental e médio. Não se fica classificando alunos em “bons” e “ruins”. No Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (PISA), os finlandeses estão sempre nos primeiros lugares. É para aprender brincando, não marchando. Por que esse modelo que tem dado certo por lá não poderia dar certo aqui? Conservadores adoram falar em caráter do brasileiro, índole e, se duvidar, até de DNA. Não tem nada disso. É só investimento e aposta.

      A Finlândia está em segundo lugar no ranking dos países mais favoráveis para ser mãe, batida pela Noruega e seguida de perto pela Islândia. A reforma da “licença parental” de 2020 propôs sete meses para a mãe e sete meses para o pai, com 70% do salário recebido, tudo pago pela previdência social. Que horror! Quanto paternalismo. Bom mesmo é se esfalfar de trabalhar e viver para a produção, cada um se virando para ir ao médico e para sobreviver na aposentadoria. Na Finlândia a uberização da vida não está em pauta. Os finlandeses pagam em torno de 50% de tudo que ganham em impostos. No Relatório Anual da Felicidade das Nações Unidas, eles apareceram em primeiro.

      Que pessoas esquisitas!

Pelo critério maior da infelicidade neoliberal, o pagamento de impostos, deveriam sofrer muito. Ah, tem retorno? Sim. O negócio pode ser não pagar menos impostos, mas aumentar o retorno. Pena que a Finlândia não é tropical. Quando me dizem, vai pra Cuba, respondo: não fosse o frio, iria pra Finlândia. Por lá, ninguém acredita que a democracia seja uma concessão dos militares. Isso se aprende na escola.


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