Darei livros de Natal

Darei livros de Natal

Hoje, 19 horas, no Café Cantante

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Há muitos anos que eu sustento esta campanha: não dê meias no Natal. Dê livros. É uma campanha saudável, sem contraindicações, baseada na ideia de que ler faz bem à saúde. Sei o quanto dar presentes de Natal complica a vida de quem não consegue ter uma ideia. Estudei o fenômeno. O que dar para aquele primo mala? Para aquele tio reacionário? Até mesmo para a prima amada, mas que nunca fica contente? Modestamente forneço a solução: meus livros. Dê “Acordei negro” para o seu parente que fala em vitimismo e mimimi quando se denuncia o racismo estrutural do país. Dê “Ser feliz é tudo que se quer” para quem vive de Rivotril. Mais: dê exemplares autografados.

      Neste Natal, dê os melhores produtos da terra: “Vila Sapo”, de José Falero; “Pequeno espólio do mal”, de Luiz Maurício Azevedo; “Dessa cor”, poemas desconcertantes de Fernanda Bastos. Dê livros da Figura de Linguagem, da Sulina, da L&PM, da Libretos, da Dublinense, etc. Seja bairrista. Cariocas e paulistas são bairristas até a raiz da alma. Inflam os seus e ignoram os periféricos com a certeza que só os donos do mundo possuem. Há vira-latas que só gostam daquilo que “faz sucesso lá fora”. Ignore-os. Não me venham com a Elizabeth Bishop, apoiadora do golpe de 1964, que chamou de “revolução rápida e bonita”. Nenhum escritor de fora? Sim, Conceição Evaristo e Michel Houellebecq.

      Mantenhamos o espírito natalino. Dê livros. Eu darei os meus. Darei meus livros para professores e servidores da segurança pública que andam sofrendo com o pacote do governo, esse mesmo que ficou para ser votado em grande parte no final do janeiro. Admiro professores, policiais civis e brigadianos que vão às escolas e às ruas lutar por nós todo santo dia. Não poderia terminar este ano sem prestar a eles a minha modesta homenagem. Presentear alguns desses profissionais com um livro meu. Sei que maledicentes dirão que é um presente grego. Vida que segue. Vou explicar no próximo parágrafo como vai funcionar.

Está apavorado? O Natal é na próxima terça e ainda faltam presentes? Ajudarei. Já pode relaxar. Hoje, quarta, das 19 às 21 horas, estarei no bar Cantante (Fernandes Vieira, 615), no Bom Fim, autografando meus livros “Acordei negro” e “Ser feliz é tudo que se quer” para quem precisa resolver com urgência a questão dos presentes de Natal. O preço de cada livro será uma grata surpresa de Papai Noel. Servidores e professores que comprarem um dos livros, apesar dos 51 meses de salário atrasado, ganharão o outro (até cem exemplares, que, todavia, o Papai Noel aqui não conta com o apoio idealista do Itaú).

Meu evento funcionará como um pronto-socorro natalino especial. Se não aparecer ninguém, distribuo tudo na rua aos passantes. Estou na fase de radicalização literária e existencial. Se aparecer servidor sem grana, por causa dos atrasos que se eternizam, ganha um livro da mesma forma. Enfim, ofereço o que tenho de melhor, sabendo que é muito pouco e possivelmente contestável, a esses heróis do cotidiano. São eles que carregam o piano. Quero abraçá-los em nome do Papai Noel.


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