Democracia X Bolsonaro

Democracia X Bolsonaro

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Limite civilizacional

 

      Os franceses têm mostrado ao mundo o que se deve fazer quando um limite é atingido. Se a Frente Nacional, de extrema-direita, vai ao segundo turno de uma eleição presidencial, direita democrática e esquerda unem-se para derrotá-la. A mídia, quando se trata dessa ameaça, toma posição sem rodeios. Entrevista Marine Le Pen, última representante desse perigo caracterizado por todo tipo de preconceito, mas expressa claramente seu repúdio às ideias da candidata. O Brasil está diante de situação semelhante com Jair Bolsonaro. Ele já deu mostras, em algum momento, de cultivar quatro formas de preconceito: racismo, homofobia, machismo e xenofobia. Além disso, não se cansa de elogiar a ditadura militar e de justificar de tortura a execuções.

Um verdadeiro democrata não vota em Jair Bolsonaro. Num eventual segundo turno entre Bolsonaro e Geraldo Alckmin, a esquerda terá de votar no tucano sem hesitação. Num confronto entre Bolsonaro e Fernando Haddad, caso Lula esteja, como tudo indica que estará, fora da disputa, a direita democrática terá de escolher o petista sem vacilar. O capitão da extrema-direita seduz certo público com simplificações. Bandido bom não é bandido executado sumariamente, mas bandido preso. Países com baixo índice de violência não chegaram a essa condição exterminando criminosos. Escolheram asfixiar a desigualdade. O combate à corrupção, fundamental no Brasil, não será mais eficaz pela via da redução da democracia e do Estado de Direito.

Bolsonaro é Le Pen. Como disse o empresário Horácio Lafer, o problema dele não é econômico, mas civilizacional. O eleitor pode preferir um candidato defensor do Estado mínimo ou do Estado intervencionista. Faz parte do jogo legítimo da democracia. Não deve apostar, por comprometimento moral, ético e democrático, num apologista das discriminações mais hediondas e na contramão da história. Um homem que ofende negros, índios, homossexuais e mulheres, desculpando-se, vez ou outra, com pífios argumentos do tipo brincadeira ou mal-entendido, não respeita as regras do bom jogo.

Não tenho partido. Cada um que vote em quem achar melhor. Salvo em Bolsonaro. Se o eleitor é conservador, há opções: Alckmin, Álvaro Dias, Amoedo. Bolsonaro foi pusilânime em episódios como os que envolveram a deputada Maria da Rosário, a cantora Preta Gil, a deputada Benedita da Silva, o PSOL, que chamou de “partido de pirocas”, ocasião em que precisou o seu pensamento: “Ninguém gosta de homossexual, a gente suporta”. Chamou a ministra Eleonora Menicucci de “sapatona”. Revelou-se para a história: “Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”.

Polui a internet: “Eu fui em um quilombo em El Dourado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas”. Chamou uma colega de “puta e vagabunda”. Aconselhou: “Eu sonego tudo o que for possível". Envergonhou: “Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”. No Roda Viva, Bolsonaro negou que tenha havido golpe em 1964, culpou os africanos pela escravidão no Brasil e disse os portugueses nem pisaram na África. Faltou a aula?

 

 

 

 

 

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