Deu Bolsonaro

Deu Bolsonaro

Presidente ganhou o Congresso Nacional

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      Não deu outra. Jair Bolsonaro passou o trator. Ganhou com folga as presidências do Senado e da Câmara dos Deputados. Rachou o DEM, liquidou Rodrigo Maia e devorou o MDB. No Senado, o seu candidato contou com o apoio do PDT e do PT. Como assim? Venceu o bloco Unidos Contra a Lava Jato. Simone Tebet, abandonada por seu partido, o pragmático MDB, representava esse desagradável lavajatismo anticorrupção. Na Câmara dos Deputados, o PT uniu-se ao emedebista Baleia Rossi, um dos algozes de Dilma Rousseff, segundo o bem informado Eduardo Cunha, para tentar barrar o caminho de Arthur Lira, candidato bolsonarista crivado de acusações de malfeitos. No Senado, no entanto, não existiu a mesma motivação. O ódio à Lava Jato era mais unificador.

      De acordo com parlamentares, o balcão de negócios funcionou sem restrições: liberação de emendas parlamentares, cargos, o de sempre, conforme os moldes da velha política. Traições e infidelidades teriam sido praticadas com transparência antológica. Quem se importa? Rodrigo Maia tentou ser tão esperto que se enrolou na malandragem: pretendia ser o antibolsonaro absoluto sem levantar de cima dos mais de 60 pedidos de impeachment do presidente da República. Dificilmente Bolsonaro terá outro inimigo tão confortável. Agora quem manda é o famoso Centrão. Em princípio, as pautas do executivo, inclusive as de costumes, fluirão. As más línguas dizem, contudo, que nada será gratuito. O perigo de um processo de impeachment fica congelado.

      Bolsonaro mostrou conhecer a linguagem do Congresso Nacional. Negocia quem pode, trai quem precisa, vence quem tem bala na agulha. O capitão está com tudo: o mercado, apesar de alguns percalços, não pretende abandoná-lo, o seu eleitorado fiel continua cativo, a oposição está mais perdida do que parlamentar novo em Brasília, o cenário da reeleição em 2022 fica mais aberto. A aliança entre DEM e PSDB em torno de um candidato como Luciano Huck ou mesmo de João Dória ficou mais difícil. O DEM de ACM Neto, que se declarou neutro na disputa da presidência da Câmara, parece bem instalado no colo de Bolsonaro. O PSDB do impoluto Aécio Neves não queria saber de Baleia Rossi. Teve de ser controlado por Fernando Henrique Cardoso e João Dória Júnior.

      Se no Senado havia o inconveniente do lavajatismo de Simone Tebet, na Câmara dos Deputados a situação era mais confortável para defensores de supostos corruptos de estimação. O leigo, vendo de fora, ficou com a impressão de que política é coisa suja. Falou-se muito em toma-lá-dá-cá e em é dando que se recebe. O presidente da República admitiu que tentaria influir nas escolhas do parlamento. Com apoio da esquerda, em algum grau, especialmente no Senado, embora também houvesse oposicionistas encantados com Lira, a velha ARENA, com dois dos seus derivados, o PP e o DEM, continuará dando as cartas na democracia brasileira. Para alguns, o governo Bolsonaro começa agora. Para quem achava o presidente enfraquecido, ele mostrou a musculatura. 


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