Diário da quarentena (22): listas

Diário da quarentena (22): listas

É tempo de escolher melhores e piores

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      Tenho lido muitos livros, visto muitos filmes, revisto muitos jogos, como os da Copa do Mundo de 1970, e escutado muita música. Corri para os livros que sempre amei, como “Conversa na catedral”, do peruano Mario Vargas Llosa, e “Suave é a noite”, de Scott Fitzgerald. Vi filmes recentes como “Ford versus Ferrari” e “Adoráveis mulheres”. Em tempos de quarentena, distração é tudo para driblar a ansiedade. Também tenho me divertido lendo as listas de melhores de todos os tempos que viraram um recurso delicioso para enganar o tempo, o tédio e até o medo.

      A lista de listas é infindável. Teve polêmica na lista dos melhores centroavantes brasileiros da história. Houve quem deixasse Romário de fora. Eu acho que Romário é melhor da área sem discussão. Listas não podem fugir de certa subjetividade. Não é aceitável, porém, fazer uma lista dos dez melhores jogadores de todos os tempos e deixar Pelé de lado. Proporei outros temas para listas agora: quem foram os cinco melhores presidentes brasileiros? A minha lista é esta: Getúlio Vargas, Lula, JK, FHC e Rodrigues Alves. Quem são os nossos cinco maiores prosadores? Machado de Assis, Lima Barreto, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Jorge Amado. E os cinco poetas: João Cabral de Mello Neto, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles e Mario Quintana. Temos talvez mais grandes poetas do que romancistas.

      Podíamos fazer também uma lista dos nossos cinco piores ditadores. Em cinco, quantos gaúchos? Meu saudoso amigo Décio Freitas chegou a escrever um livro intitulado “O homem que inventou a ditadura no Brasil”, sobre Júlio de Castilhos. Há tantas listas possíveis que se torna impossível meter o bedelho em todas. Quem foram os cinco maiores artistas (cantores, músicos) gaúchos? Fico com Teixeirinha, José Mendes, Gildo de Freitas, Lupicínio Rodrigues e César Passarinho. Não é fácil misturar alhos com bugalhos e tirar alguma coisa com sentido.

      Imaginem só uma lista com os cinco melhores jogadores da dupla Gre-Nal de 1970 para cá! Colorado que sou e que era apaixonadamente quando adolescente eu me atreveria a dizer isto: Manga, Figueroa, Falcão, Carpeggiani e Ronaldinho Gaúcho. Se eu me entusiasmar um pouquinho coloco o D’Alessandro no bolo. Listas misturam memória afetiva com aspectos técnicos e alguma racionalidade. Ninguém se atreverá a não listar Messi e Cristiano Ronaldo entre os melhores jogadores das primeiras décadas deste século XXI. Há tanta lista escondida que nem em sonhos listei. Por exemplo, quem são os cinco piores presidentes de país na atualidade? Donald Trump lidera?

      Termino com a lista das cinco músicas da MPB que mais amo (hoje e quase sempre, mas com alguma variação de acordo com fatores subjetivos): “Vapor barato”, com Gal Costa; “A palo seco”, Belchior; “Eu te amo”, Chico Buarque; “Onde anda você?”, com Vinícius e Toquinho; e “Wave”, Tom Jobim. Uma lista que gosto é a das cinco mais matadoras de Roberto Carlos: “Detalhes”, “Outra vez”, “Jovens tardes de domingo”, “O portão” e “Como vai você”. Fazer listas é listar fagulhas. Estas listas ficaram muito masculinas. No futebol e na política os homens dominaram implacavelmente ao longo da história e ainda não querem ceder. O machismo é uma marca histórica.


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