Diversificação e desidratação conservadora

Diversificação e desidratação conservadora

Eleições mostram eleitor em busca de novo rumo

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      O primeiro turno das eleições municipais em Porto Alegre confirmou o que este modesto analista imaginava: a impugnação da candidatura de José Fortunati (PTB) favoreceu Sebastião Melo (MDB) e tirou do segundo turno Nelson Marchezan Júnior (PSDB). Fortunati e Melo disputavam e dividiam o mesmo eleitorado. Separados, faziam a alegria dos adversários. De quebra, parte da direita ficou mais confortável para a segunda etapa da disputa. Como ia apoiar Marchezan, se ele passasse, depois de ter pedido o seu impeachment? Melo larga agora em vantagem. Deve recuperar os votos de Marchezan. É o mesmo campo ideológico.

      Há, porém, outros aspectos em jogo. A abstenção foi alta. Manuela d’Ávila terá de buscar esse eleitor que não foi votar. O PT tomou uma surra em São Paulo. Guilherme Boulos (PSOL) ocupou o lugar tradicionalmente dos petistas. São Paulo viverá mais um capítulo da polarização entre tucanos e esquerdistas. Jair Bolsonaro não emplacou como cabo eleitoral. A vaga antipolítica de 2018 virou marolinha. O DEM já faturou três capitais: Salvador, Curitiba e Florianópolis. Poderá levar a quarta com Ricardo Gomes (vice de Melo) em Porto Alegre. Sul Dem. Se o DEM engole prefeituras, o PSOL sonha com a maior do país, São Paulo, e com Belém do Pará. Enquanto isso, comemora o bom desempenho para o legislativo. Na capital gaúcha, abocanhou quatro vagas, a começar pelos dois mais votados: Karen Santos e Pedro Ruas, No país, o PSOL ocupa o espaço que já foi soberano do petismo.

      A Câmara de Vereadores de Porto Alegre terá cinco negros, sendo quatro mulheres, de onze. A casa ficou mais jovem e mais diversificada em gênero e cor. A câmara de Curitiba conseguiu eleger a primeira negra da sua história: Ana Carolina Dartora (PT). Isso mostra o tamanho da façanha. E a dimensão do racismo estrutural. Não impedia. Nem elegia. A nova sensibilidade trilha o seu caminho. Dito isso, a melhor cartada para a esquerda em Porto Alegre, do ponto de vista de uma pragmática eleitoral, teria sido tentar ganhar no primeiro turno com uma frente realmente ampla: PT, PSOL, PDT, PSB. Segundo turno tende a puxar para o que se apresenta como centro. Aí o leito reage: e 2018? Não havia centro propriamente dito. Fernando Haddad não figurava como pessoa, mas como PT num momento de polarização selvagem. Com isso não se deve entender que o jogo está jogado. Tem muito voto para passar embaixo da ponte em 15 dias.

      O grande derrotado do primeiro turno foi o Tribunal Superior Eleitoral. Resolveu centralizar o recebimento e a divulgação dos dados e causou um engarrafamento monstro. São Paulo parou. Por que eleição municipal tem de passar pelo TSE e não apenas pelos TREs? A economia ficou cara. Produziu atraso e alimentou a paranoia dos terraplanistas eleitorais, que sonham com a volta das cédulas em papel. O ministro Luís Roberto Barroso jogou a batata quente no colo da antecessora, Rosa Weber. Disse que quando assumiu a presidência do TSE o novo modelo já estava adotado e que não simpatizou com ele. Deu lambança. O TRE-SP abriu saída de emergência e divulgou dados que, em princípio, não poderia ter totalizado. Mas o TSE, apesar do atraso, pode se sentir vitorioso também: o sistema funciona, é seguro e dá um banho no americano. Nosso atraso foi de duas horas.

Tem muito conhecido desempregado agora. Conclusão: o bolsonarismo tomou um laço, o conservadorismo encolheu, a diversidade cresceu e é só o começo.


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