Do golpe ao impeachment

Do golpe ao impeachment

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Enquanto a oposição se agarrou às pedaladas para derrubar Dilma, falei em golpe. Conversei com dezenas de especialistas. As pedaladas são praticadas pela maioria dos governadores. Outros presidentes, como FHC, usaram-nas com o beneplácito do TCU. Havia jurisprudência.

A delação de Delcídio é devastadora. Como duvidar dele? Mas a sua delação não foi juntada ao impeachment. Delcídio garante que Lula e Dilma sabiam de tudo sobre o petrolão. Denuncia também Temer e Aécio, que perdeu na urna, mas teria ganho de Furnas.

Eu acredito em tudo o que Delcídio diz. Os petistas acreditaram em Pedro Collor, duvidaram de Jefferson e chamam Delcídio de mentiroso. Louvaram o juiz justiceiro espanhol Baltasar Garzón, mas detestam os métodos, em muitos momentos irregulares, de Sérgio Moro. O sistema afundou. Os grampos de Moro desnudaram Lula. FHC, por medida provisória, deu status de ministro ao advogado-geral da União, Gilmar Mendes, para salvá-lo de juízes de primeira instância.

A oposição, em 1999, pediu o impeachment de FHC. Perdeu no voto. Os grampos e a delação de Delcídio transformaram a tentativa de golpe contra Dilma em procedimento legítimo de impeachment. É sofisma dizer que, por estar previsto na Constituição, impeachment nunca é golpe. Se não fica provado crime de responsabilidade, é golpe. Tendo o parlamento por tribunal, o político prevalece. Dilma poderá ser julgada por uma coisa e condenada por outra. Mesmo que haja seletividade nas investigações, os escândalos estão na mesa. Mais do que perseguido, o governo estertora por seus erros e irregularidades.

Contem comigo para defender bolsa-família, cotas, ProUni, a valorização do salário mínimo, a criação de uma classe C com poder aquisitivo, o Minha Casa Minha Vida e todas as políticas de inclusão social implementadas na era Lula/Dilma. Não contem comigo para tapar o sol com a peneira. Continuo o que sempre fui: independente. Quem apostou no contrário, perdeu. Ataco as ilegalidades de Sérgio Moro, a seletividade de Rodrigo Janot, o engajamento ideológico de Gilmar Mendes, a hipocrisia da direita, que tenta se fazer passar por honesta, e o esforço da esquerda para encobrir os seus podres. O golpe virou impeachment. A direita pode tripudiar, com sua grossura e seu ódio ideológico, alegando que já sabia. Entre saber, como intuição ou desejo, e provar há quilômetros de denúncias vazias.

Delcídio Amaral sepultou qualquer legitimidade do governo Dilma. Só faltam o enterro e a missa de sétimo dia. Será de bom tom que apresente provas. Sepultará Temer e Aécio? Organizadores dos movimentos de rua pelo impeachment não parecem impressionados com as denúncias contra o PMDB e o PSDB. Kim Kataguiri disse que as vaias na Paulista aos tucanos Aécio e Alckmin foram injustas. Roger Chequer declarou que não vê crime praticado por Temer. O jogo está jogado. Cai Dilma, uma multidão vai às ruas comemorar. Depois, a vida segue e não se fala mais em corrupção. O certo seria o afastamento de Dilma, Temer, Eduardo Cunha e Renan. O Brasil está precisando zerar. Zerar alguns bilhões.

Por enquanto está assim: impeachment: golpes tentados pelo PT. Golpe: impeachment contra o PT.

Desculpa para aderir ao golpe: a corrupção do governo.

Razões para denunciar o impeachment: será decidido pelo cúmplice dos fatos julgados e principal beneficiário do golpe, o PMDB. É possível ser cúmplice do acusado, juiz e beneficiário ao mesmo tempo?

Por que o STF não apressa o julgamento da ação contra Cunha, o incorruptível?

Por que uma multidão amarelada não toma as ruas para pedir um impeachment limpo, sem Cunha?

O impeachment/golpe é um festival de hipocrisia.

Todos condenáveis. Quantos condenados?

No momento, o melhor para quem deseja o fim da Lava Jato é evitar uma nova eleição.

Com Michel Temer no comando tentará o famoso acordão para salvar a própria pele.

Como não tem cordeiro, o lobo dará as cartas. E jogará de mão.

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