E agora, Flávio?
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Um cheque de Queiroz aterrissou na conta da esposa de Bolsonaro. O que se esperava desde o começo? Coisa simples: que Fabrício Queiroz esclarecesse a situação. O que se viu? Primeiro, ele sumiu. Ficou dias desaparecido. Flávio Bolsonaro então contou ter encontrado com o assessor e ouvido dele uma explicação plausível para os fatos. Mas, surpresa, não podia contar para o Brasil o que ficara sabendo. Queiroz faltou ao primeiro chamado do Ministério Público para clarear tudo. Em seguida, deu uma entrevista na qual revelou ter estado doente e hospitalizado, mas não lembrou o nome do hospital onde estivera hospedado. Avisou que teria de sofrer uma cirurgia para extrair um tumor, o que aconteceu em São Paulo, no Einstein, destino incomum para um carioca de classe média endividado. Mas cada cuida de si como pode.
No hospital, Queiroz deixou-se filmar dançando. Disse que foi um segundo de alegria num momento triste. Ao longo de um mês o que o Brasil ficou sabendo? Segundo Jair Bolsonaro, que o cheque na conta da sua mulher era restituição de um empréstimo? Mais detalhes? Nenhum. Conforme Queiroz, que ele negocia carros. Mais detalhes? Nenhum. Queiroz já faltou a dois encontros com o MP por estar doente. A sua esposa e as suas filhas, também enroladas, não foram depor por estarem cuidando do doente. Flávio Bolsonaro não compareceu ao MP por não ser investigado e por querer ver primeiro os autos da investigação. O que pensa qualquer um? Se Queiroz pode dar entrevista e dançar, não poderia ter gasto quinze minutos para fornecer uma explicação com alguns detalhes consistentes? Seria pedir muito que fizesse isso hoje?
Afinal, é ou não é para esclarecer? Flavio Bolsonaro disse que sim, mas foi ao Supremo Tribunal Federal pedir para barrar a investigação. O ministro Luís Fux atendeu à demanda. A busca de esclarecimento está suspensa até o final de janeiro. Qual o motivo alegado por Flávio? Não se pode saber. Segredo de Estado. Quer dizer, de justiça. Em entrevista, Flávio disse que o MP o investigou irregularmente e que quebrou o seu sigilo bancário sem autorização judicial. Faz mais de nove meses que o Brasil espera que as mortes de Marielle e de Anderson sejam esclarecidas. Faz mais de um mês que o país espera o esclarecimento do caso Queiroz. Vai demorar. Que mistério é esse? As más línguas, na falta de esclarecimento, ficam dizendo que era uma “caixinha”, esquema no qual um parlamentar retoma parte do salário dos seus comissionados. Não seria mais fácil e eficaz esclarecer? Ou há algo a esconder? Que urgência havia para Fux suspender a investigação na condição de plantonista do STF? E a tal da transparência? O COAF flagrou também depósitos de mesmo valor em sequência na conta de Flávio Bolsonaro. Algo que no linguajar técnico se rotula de suspeito.
O vulgo, no bar, tomando umas, pergunta: era isso que ele queria que o STF não deixasse revelar?
Nada que não se resolva com uma pronta e clara explicação.
Houve uma vez na América um gigante que beijou a lona em horário nobre.