Eis o cronista na página outra vez

Eis o cronista na página outra vez

publicidade

Eis o cronista na página outra vez, digitando na ponta dos sonhos, escrevendo poemas em prosa e fabulações em tonéis como quem sussurra declarações e conta verdades de ficções colhidas nos botecos da vida e publicadas nos rodapés. Eis o cronista na área outra vez, sorrindo com a ponta dos lábios, cobrindo de beijos os corações, relembrando aquarelas e emoções. O cronista é o Nobel da ralé. Entre monstros sagrados e transformações, entre mensagens e coronéis, entre redes sociais e sarapatéis, o cronista escreve o que sente e pressente assim de revés.

Deixa sacudir o teclado, deixa o tempo passar, deixa vir o que virá, deixa a cabeleira toda vermelha se agitar, que o cronista é o escravo das letras esparsas e sabe que o tempo não tem hora nem pressa ou falta de pressa de passar. Eis o cronista na tela outra vez, escolhendo canções como quem diz não tem jeito, a vida é uma crônica em tom menor, dó e ré. Mas o relógio se confunde e o cara já canta meio de lado, joga pedra no cronista, ele é feito pra apanhar e, se pensa que pensa, está levemente enganado, a lei um dia, antes tarde, há de se lembrar. Eis o cronista engraçado sambando pelos costados como quem se desvia dos cabarés. O cronista é um nobre que perdeu o cavalo para a estátua e ficou a pé.

Eis o cronista na página outra vez, esgueirando-se pelas ruelas, confabulando nessas vielas, espiando pelas janelas, rechaçando galões e caravelas, pau que homenageia Chico também se inspira em Francisco e vice-versa, mais vice do que versa e verseja quem consegue munição na cartola. O cronista é o barão da maré, o visconde da comunidade e o duque da imensidade cósmica dos firmamentos, dos passamentos e das revoluções.

Vida de cronista é assim, num dia come poeira, no outro dorme na rede e sonha com a felicidade. Se tiver fantasias, mimos, dengos, esperanças, utopias, desfila como um lorde na sexta-feira. Quando se permite, quebra o protocolo, usa fraque e estola, corre, junta, embola, escreve prosa em rima e diz que a crônica prima pela malandragem. Eis o cronista na feira outra vez, comprando produtos orgânicos para a xepa da domingueira, que todo dia cabe no calendário e faz parte das estações.

Deixa assentar a poeira que o cronista é o Jabuti na esteira. Eis o cronista na página outra vez, digitando com a gema dos dedos, entre manchetes, projetos, dejetos e até letras para quem quiser musicar.

Mar aberto

Onda alta

Areia fina

A minha sina é te amar

Não faz mal, não faz mal

O amor é um oceano,

Barco leve, vela solta,

Onde a cada fim de ano

Eu peço pra nunca te deixar.

 

 

 

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895