Encontro com Marciano
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Encontro o Marciano. Estava saindo da sua nave, que parece um carro chinês com peças impressas em 3D. Não nos víamos desde 2014. Trocamos um abraço apertado. Marcianos são afetuosos e meio grudentos. Gostam de tocar, de beijar e de pedir notícias de quase todo mundo.
– Como vai o Brasil?
– Não sei.
Ele se espanta. Marcianos são cartesianos. Medem tudo com estatísticas e indicadores. Meu amigo trata de pedir dados precisos:
– Melhorou?
– Depende.
– Piorou?
– Depende.
Marciano fica me olhando como se eu fosse um extraterrestre. Quer dizer, um terráqueo, um estranho, um não marciano, um louco:
– Ainda estão no “nós contra eles”?
– Não.
– Avançaram?
– Depende.
– Como assim?
– Acho que agora estamos no “todos contra todos”.
Fico preocupado com o que o Marciano vai pensar de nós. A nossa imagem em Marte, especulo, dependerá da conversa que estamos travando num pátio de shopping center. Tento evitar assuntos espinhosos.
– Lula está preso? – ele pergunta.
– Sim.
– E o Temer?
– Na presidência da República.
– E o Aécio?
– No Senado.
– E o Maluf?
– Cumprindo prisão domiciliar na sua mansão.
– Como se explica isso?
– Cada processo tem seu tempo e suas particularidades – respondo.
– Hãhã...
A resposta me surpreende. Se ele não fosse tão verde, seria acusado de vermelho. Como pode ser verde um homem do planeta vermelho? Não me atrevo a questionar. Ele não gosta muito de conversa fiada.
– Quem ganha as eleições? – dispara.
– Depende.
– De que ou de quem?
– Dos eleitores.
Marciano me fuzila com seus olhos de vidro. Deixo passar a fúria do visitante para completar meu complexo pensamento sobre o tema.
– Tudo depende do tamanho da descrença dos eleitores na política.
– E daí?
– Quanto maior a descrença, maior a chance de ganhar um dito “novo”.
– Isso é bom?
– Depende.
– Obrigado. Volto para casa mais informado.