Encontro virtual com o vidente
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Quanto tempo, hein? Eu nem me lembrava mais do Guma, o oráculo de Palomas, que só prevê o previsível. Achei que tinha morrido. Foi aí que recebi uma chamada dele no Skype. Fiquei surpreso. Aceitei. Apareceu o velho Guma de guerra sentado num banco de madeira sobre o seu indefectível pelego vermelho. Depois de um mate, Guma desembuchou. Andou preso na Lava Jato acusado de saber demais. Não tinha como negar. Por via das dúvidas, fez delação premiada. Está solto. A tornozeleira eletrônica transferiu para o pescoço do seu cusco, O Geddel, que adora dormir em cima de uma montanha de papel de origem desconhecida e está sempre choramingando pelos cantos. Resolvi não perder tempo. Interroguei Guma sobre os assuntos capitais.
– Quem ganha a eleição presidencial de 2018?
– Ora, vivente, o Lula.
– Mas ele vai poder concorrer?
– Tchê, isso quem sabe é o tal TRF-4, que eu não sou juiz nem tenho auxílio-moradia. Também nem é preciso aqui neste meu velho rancho.
– Como é que sabe que o Lula ganha?
– Porque sou vidente.
– É vidente, mas não sabe o resultado do julgamento do Lula.
– Bueno, tchê, aí o buraco é muito mais embaixo. De cabeça de juiz e de sanga de água muito parada tudo se pode esperar. Não me atrevo.
– Bolsonaro pode ameaçar?
– É só o que ele faz.
Mudei de assunto. Havia coisas mais imediatas a saber. Guma é desses bons entrevistados, mas que enfeitam a frase. Se deixar solto, não para mais. Gosta de se ouvir. Tem de se levar na rédea curta.
– O Inter sobe?
– Já subiu, tchê. Mas, como dizem os economistas, com viés de baixa.
– E o Grêmio, ganha a Libertadores?
– Se não ganhar, arranha.
– Que acha do Renato como treinador?
– Renato, não. Professor Portaluppi.
– Arranha ou ganha a Liberadores?
– Uma coisa ou outra, pode escrever, vivente.
– Que previsão mixuruca. Não sai nada de certo.
– Certo, certo, tchê, só a morte. E já tem cientista falando em acabar com ela. Deve ser para esperar a aposentadoria do Temer.
Fiquei um tempo olhando a cara redonda de Guma na telinha. Achei-o mais magro, bastante esgualepado. Não deve ter recebido a sua ração de costela gorda na prisão. Decidi comer o pirão pelas bordas para não me atrapalhar com as bolas. Guma não gosta de ser apertado. Salvo por mão de prenda jeitosa. Por isso usa bombacha folgada.
– Como fazia com a erva?
– Depois que o Mujica liberou, nunca mais tive problema.
– Eu falava da erva-mate na prisão.
– Ah, essa era um pouco mais difícil.
