Esses políticos e suas malandragens

Esses políticos e suas malandragens

Câmara retomou o que o Senado bloqueou

publicidade

 

      Novos malandros tomam os lugares dos velhos. Davi Alcolumbre (DEM/AP) tomou o posto da raposa decadente Renan Calheiros (MDB-AL). Os hábitos continuam os mesmos. O presidente do Senado tentou aprovar, sem passar por qualquer comissão, um projeto que alterava a prestação de contas das campanhas eleitorais. A nova lei acabaria com qualquer obrigação de transparência. Não se precisaria usar o modelo da justiça eleitoral para prestar contas, seria possível pagar advogado de candidato com dinheiro do Fundo Eleitoral, o que abriria espaço para caixa 2 e outras artimanhas. Punição só se houvesse dolo comprovado. Um golpe.

      O Fundo Eleitoral, corrigido pela inflação, deveria passar de R$ 1,7 bilhão para 3,7 bilhão mesmo não tendo dinheiro para saúde e educação. A turma esfregava as mãos. O relator da proposta, senador Weverton Rocha (PDT-MA), dizia candidamente que ainda não tinha opinião sobre o conteúdo a ser votado. Era pura mamata, teta grande, safadeza, malandragem, golpe de espertalhões. Na Câmara dos Deputados, a sacanagem ganhou por 263 a 144. Tinha um item que parece favorecer as mulheres: 5% do Fundo seria aplicado em campanhas femininas. Os partidos criariam institutos próprios para gerir essa verba. Se algo desse errado, a culpa ficaria com os institutos. Nenhuma candidatura poderia ser cassada por problemas de prestação de contas depois da posse. Enfim, o paraíso terrestre para os infatigáveis e nobres representantes dos interesses do povo ultrajado.

      Houve reação no Senado. Simone Tebet, presidente da Comissão de Constituição e Justiça, avisou que era fria. A medida precisava ser aprovada até 4 de outubro para valer para a eleição de 2020. A ideia de sempre era perder algum boi para conseguir passar a boiada. A proposta previa liberdade para impulsionar conteúdos na internet com a bufunfa do Fundo Eleitoral, o que atualmente é proibido. Doações feitas para gastos com advogados ou escritórios de contabilidade não entrariam no “teto de doação e gasto eleitoral”.  Olha aí o caixa 2 voltando    à avenida, gente! 

      Será por isso que o senso comum desconfia de político e acaba generalizando? Diz a sabedoria popular que, de político, sempre que se espera o pior, acontece. Eles parecem aqueles jogadores de futebol que olham para um lado e jogam a bola no outro. Parece difícil. É só esperteza e prática. Político que se preza e segue a tradição finge ir para um lado e vai para outro. É só inverter o discurso para saber qual será a prática. É como perdiz: canta num lado, o ninho está no outro. Quem se engana com isso? O predador. No caso da política, o predado, que também atende pelo simpático apelido de eleitor, cidadão ou otário da vez. Nem todo político é assim. Claro, claro. É isso que permitiu sonhar que essa canalhice não passaria. O Senado trancou o negócio. A matéria voltou à Câmara, que aprovou quase tudo de novo.

    Agora é com Jair Bolsonaro. Vai vetar? Vai aprovar? Vai jogar seguir a população ou o centrão?  Não há democracia sem políticos. Pode haver político sem malandragem? Eis a pergunta que incendeia o país? Não. O país dorme.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895