Extinção dos dinossauros

Extinção dos dinossauros

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Passado o impacto, reflitamos sobre o que aconteceu em 7 de outubro. Um meteorito eleitoral devastou dinossauros políticos. O que será do Brasil sem Romero Jucá, Eunício Oliveira, Edison Lobão, Roberto Requião, Jorge Viana, Cristovam Buarque, Magno Malta, Marconi Perillo, Cássio Cunha Lima, José Agripino Maia, José Carlos Aleluia, Pauderney Avelino, Beto Mansur e outros elefantes longevos e barulhentos? O que será da nação sem um representante tradicional da família Sarney no parlamento ou no governo? Como viveremos sem Zequinha? Ao longo de diferentes governos Romero Jucá prestou serviços nefastos ao país. A sua frase mais famosa sempre será aquela sobre a necessidade de estancar a sangria da Lava Jato. Que faremos sem ele?

Os paquidermes ficaram pelo caminho abatidos impiedosamente pelos eleitores. Alguns, como Eduardo Suplicy, tiveram a ilusão de que voltariam. Outros, feito Lindbergh Farias, não souberam perceber, como Aécio Neves e Gleisi Hoffmann, a hora de ficar menor para sobreviver. O Rio Grande do Sul perdeu na Câmara dos Deputados Darcísio Perondi, que disputava com Carlos Marun o título de o mais fiel servidor de Michel Temer, o mais impopular presidente da história do Brasil. A aposta não foi boa. Temer virou o pior cabo eleitoral do mundo. Choram os dinossauros enquanto esvaziam as gavetas. O tempo da retirada chegou. Alguns, porém, tentarão voltar. Jucá certamente concorrerá a prefeito em 2020. Salvo se puder aparecer como ministro antes disso.

Alguns terão de procurar emprego. Sabem ainda trabalhar? A maioria viverá de suas gordas aposentadorias especiais e de suas poupanças. Dinossauros sempre podem surpreender. Ibsen Pinheiro e Pedro Simon, dois caciques do MDB gaúcho, representantes históricos da oposição ao regime militar, deram aval ao apoio do partido a Jair Bolsonaro. A renovação das cadeiras em disputa no Senado foi de 85%. Não significa que ficará melhor. Dificilmente será pior. Renan Calheiros conseguiu salvar o couro e permanecerá como vestígio de uma época abalada por uma catástrofe natural. Um dia a casa terá de cair. As casas caem. Às vezes, tarde demais.

Durante décadas os dinossauros viveram tranquilamente em Brasília à sombra das mansões públicas e do auxílio-moradia. Faziam semanalmente a migração entre os seus Estados e a capital federal. Não temiam tempestades nem fitavam o céu. Dominavam imensos currais eleitorais que lhes garantiam proteção contras as intempéries. Não deram a menor bola para o surgimento das redes sociais, que ainda não sabem usar. Alguns, mais evoluídos, já mandam e-mails sozinhos. Não foi suficiente. Ainda se ouve o grito de agonia desses gigantes abatidos. Não sabem o que dizer. Jucá culpa a mídia e a Lava Jato. Pena que Requião, o dinossauro na contramão do entreguismo e das conspirações, caiu junto com tantos quadrúpedes que não deixarão rastros. Só pistas.

Dobram os sinos. Os dinossauros voltam para casa. Alguns, cansados, escreverão as suas memórias tomando o cuidado de omitir o principal. Outros, inconformados, gastarão horas ao telefone costurando estratégias para um retorno incerto. A maioria não deixará saudades. Em breve, nos aeroportos, ouvirão comentários devastadores:

– Esse aí não era senador?

– Acho que não. Não me lembro.

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