Extinção dos dinossauros
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Os paquidermes ficaram pelo caminho abatidos impiedosamente pelos eleitores. Alguns, como Eduardo Suplicy, tiveram a ilusão de que voltariam. Outros, feito Lindbergh Farias, não souberam perceber, como Aécio Neves e Gleisi Hoffmann, a hora de ficar menor para sobreviver. O Rio Grande do Sul perdeu na Câmara dos Deputados Darcísio Perondi, que disputava com Carlos Marun o título de o mais fiel servidor de Michel Temer, o mais impopular presidente da história do Brasil. A aposta não foi boa. Temer virou o pior cabo eleitoral do mundo. Choram os dinossauros enquanto esvaziam as gavetas. O tempo da retirada chegou. Alguns, porém, tentarão voltar. Jucá certamente concorrerá a prefeito em 2020. Salvo se puder aparecer como ministro antes disso.
Alguns terão de procurar emprego. Sabem ainda trabalhar? A maioria viverá de suas gordas aposentadorias especiais e de suas poupanças. Dinossauros sempre podem surpreender. Ibsen Pinheiro e Pedro Simon, dois caciques do MDB gaúcho, representantes históricos da oposição ao regime militar, deram aval ao apoio do partido a Jair Bolsonaro. A renovação das cadeiras em disputa no Senado foi de 85%. Não significa que ficará melhor. Dificilmente será pior. Renan Calheiros conseguiu salvar o couro e permanecerá como vestígio de uma época abalada por uma catástrofe natural. Um dia a casa terá de cair. As casas caem. Às vezes, tarde demais.
Durante décadas os dinossauros viveram tranquilamente em Brasília à sombra das mansões públicas e do auxílio-moradia. Faziam semanalmente a migração entre os seus Estados e a capital federal. Não temiam tempestades nem fitavam o céu. Dominavam imensos currais eleitorais que lhes garantiam proteção contras as intempéries. Não deram a menor bola para o surgimento das redes sociais, que ainda não sabem usar. Alguns, mais evoluídos, já mandam e-mails sozinhos. Não foi suficiente. Ainda se ouve o grito de agonia desses gigantes abatidos. Não sabem o que dizer. Jucá culpa a mídia e a Lava Jato. Pena que Requião, o dinossauro na contramão do entreguismo e das conspirações, caiu junto com tantos quadrúpedes que não deixarão rastros. Só pistas.
Dobram os sinos. Os dinossauros voltam para casa. Alguns, cansados, escreverão as suas memórias tomando o cuidado de omitir o principal. Outros, inconformados, gastarão horas ao telefone costurando estratégias para um retorno incerto. A maioria não deixará saudades. Em breve, nos aeroportos, ouvirão comentários devastadores:
– Esse aí não era senador?
– Acho que não. Não me lembro.