Fantasmas do comunismo

Fantasmas do comunismo

Bolsonaro persegue espectros?

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Jair Bolsonaro esteve nos Estados Unidos. Como sempre,  atacou o comunismo.

Fez eco ao seu guru.

Olavo de Carvalho sempre aproveita a ocasião para combater moinhos de vento. O comunismo no leste europeu ruiu com o muro de Berlim em 1989. Restaram no mundo vestígios arqueológicos como Cuba e mutações transgênicas como a China. A Coreia do Norte é um caso de conservação do passado por uma camada de cinzas vulcânicas. Em março de 1919, Lenin criou a III Internacional ou Internacional Comunista, que ficaria conhecida como Komintern. Era uma reação ao ecletismo da II Internacional, que aceitava socialistas reformistas. A Komintern morreu em 1943. Stalin investiu na Kominform – "Escritório de Informação dos Partidos Comunistas e Operários" –, uma internacional de comunistas alinhados à URSS. Durou até 1956. Faz tempo. O tempo não passa por aqui?

      Olavo de Carvalho criou o mito de que o tal Foro de São Paulo seria a internacional comunista da América Latina. Até pode ter sido o sonho de alguns, mas também ficou pelo caminho. Olavo não é filósofo, embora se interesse pelo assunto. No passado, foi astrólogo. Considera a sua astrologia erudição. Os filósofos não querem debater com ele para não o promover ao que não é. Paulo Coelho é de esquerda. Olavo de Carvalho, de direita. Entre eles há em comum uma matriz mística. São rebentos dos anos 1960. Olavo fez de uma suposta ameaça comunista o seu cavalo de batalha para o poder intelectual. Aparelhou com palavras de ordem, simplificações e repetições um grupo capaz de conseguir votos para empalmar o poder. A estratégia funcionou por ser simplista.

É o paradoxo das redes sociais. O simplismo é mais convicente.

Chamar social-democracia de comunismo surte mais efeito.

      O que querem os anticomunistas de Olavo? Implantar um modelo tão ideológico quanto o dos comunistas combatidos. Não por acaso o ministério da Educação é a base desta nova Internacional Anticomunista. A exemplo dos comunistas, os anticomunistas também cultuam personalidades. A Espanha edificou Franco. O Chile elevou Pinochet. O ministro da Educação, o colombiano Vélez Rodriguez, tentou emplacar o embrião de um projeto de culto ao novo líder. Os freios e contrapesos da democracia não deixaram. Mas a vontade de aparelhar pela direita continua viva.

      A Internacional Olavista Anticomunista (IOA), com sede na Virgínia, nos Estados Unidos, também se fundamenta na construção do novo homem. No caso, o velho, com a salvação do modelo ocidental de civilização dominado pelo homem branco heterossexual com seus rituais, valores e funcionalidades. A escola e a família devem ser os centros irradiadores de uma visão de mundo tradicional e compacta. Não se trata de apenas ensinar matemática e língua portuguesa, mas de substituir sociologia e filosofia por moral e cívica para incutir padrões e valores.

      Para lembrar uma expressão que fez sucesso em outros tempos, com a assinatura de Louis Althusser, para o olavismo, assim como para os seus criticados, a escola deve ser Aparelho Ideológico de Estado (AIE), com a função de transmitir e reproduzir a ideologia considerada fundamental para o regime. Ao contrário do que sugere astuciosamente a ideia de escola sem partido (sem ideologia), defende-se uma escola com muita ideologia, mas com a ideologia “certa”. Todo o projeto olavista é de aparelhamento. Depois do Foro de São Paulo, o Foro da Virgínia. O outro braço da Internacional Olavista é o ministério das Relações Exteriores, que luta contra o “comercialismo” da diplomacia por uma postura mais ideológica. O ministro olavista das Relações Exteriores, porém, perdeu espaço para o filho do homem na conversa reservada com Trump.

O culto à personalidade costuma fomentar dinastias.


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