Folha de S. Paulo acusa o golpe

Folha de S. Paulo acusa o golpe

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Esses jornais do centro do país não perderiam tempo se me lessem todos os dias.

Saberiam há mais tempo que, sem legitimidade para governar, Dilma e Temer deveriam renunciar.

Seria uma saída ou uma contradição?

Defendi isso. O PSOL também.

Agora, em editorial, a Folha de S. Paulo reposiciona-se e reconhece a ilegitimidade do impeachment:  "Embora existam motivos para o impedimento, até porque a legislação estabelece farta gama de opções, nenhum deles é irrefutável. Não que faltem indícios de má conduta; falta, até agora, comprovação cabal. Pedaladas fiscais são razão questionável numa cultura orçamentária ainda permissiva".

Há uma contradição. Se não há argumento seguro para o impeachment, não há razão para renunciar.

Isso só serviria aos interesses do PSDB, que teria nova chance para tentar ganhar o que perdeu.

Existe outra saída: a oposição deixar Dilma governar.

As pedaladas fiscais só convencem os convencidos.

É pretexto encontrado por quem deseja derrubar a presidente da República.

Reportagem de Dimmi Amora , na mesma Folha de S. Paulo, já havia demonstrado que as pedaladas eram costumeiras no governo FHC: "Os números da Caixa, relativos ao pagamento do seguro-desemprego e do abono salarial, mostram que, de fato, houve casos nos governos anteriores em que os montantes repassados pelo Tesouro foram insuficientes para o pagamento dos programas".

FHC, criador do Proer, uma bolsa para banqueiros, que agraciou um banco da família Magalhães Pinto, sendo que um das herdeiras do conglomerado era casada com um filho de FHC, pedalou bastante:  "Entre 1999 e 2002, no governo FHC, o maior déficit, em valores corrigidos, foi o de R$ 918 milhões em maio de 2000, com o seguro-desemprego. Na maior parte dos casos os déficits mensais não chegavam a R$ 100 milhões. Nos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2010, os déficits caíram. O rombo mais expressivo, de R$ 750 milhões, ocorreu em novembro de 2007, com o abono salarial". Na lei de crime responsabilidade não há menção a valor ou tempo. Tanto faz.

A reportagem da Folha, porém, precisa: "O diretor jurídico da Caixa, Jaiton Zanon, afirmou que é necessário considerar que o volume de recursos dessas contas também é, em média, 3,8 vezes superior ao do começo da década passada devido ao crescimento do número de beneficiários".

Ponto capital: "De acordo com o diretor jurídico, mesmo em períodos em que houve vários meses seguidos de déficit em alguma das contas, em nenhum desses meses os valores ficaram negativos por mais de 30 dias, por exemplo". O que é mais grave? Fazer banco público adiantar dinheiro de programa social ou ajudar banco privado a se salvar da falência com dinheiro público?

Será que a Folha está virando petralha?

Ou percebeu que estava fazendo o jogo dos coxinhas?

É bom quando um jornal corrige o seu rumo.

Ou será que a Folha, certa de que o impeachment acontecerá, quer ter um álibi para não ser acusada de ter apoiado mais um golpe? Não duvido. É preciso ser paranoico para falar de política.

 

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