Futebol, estatística, surpresas e efeito sanfona

Futebol, estatística, surpresas e efeito sanfona

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Desde o tempo em que eu era setorista de jornal cobrindo o Grêmio e até a seleção brasileira, em eliminatórias, que eu faço a minha hierarquia das competições: campeonato regional vale menos que Copa do Brasil, que vale menos que Campeonato Brasileiro, ainda mais agora, com o nacional de pontos corridos e a Copa do Brasil sem todos os grandes times brasileiros. A Libertadores da América tem grande valor simbólico por envolver vários países e rivalidades, mas, em se tratando de índice de competividade, é meno difícil que o Brasileirão por não serem todos contra todos em pontos corridos. O título mundial de clubes, menos valorizados pelos europeus, que preferem a Liga dos Campões, é importante como marketing, mas tem baixo índice de competividade pelo escasso número de jogos. Ganhar de grandes europeus tem mais valor para periféricos.

O Brasileirão, por ter em torno de 14 clubes em condições de disputar o título, tem maior índice de competividade que o Espanhol e o Italiano, sendo, nesse sentido, mais difícil e empolgante, embora com times menos espetaculares e caros.

Mesmo entre os regionais há hieraquias: o carioca e o paulista, com quatro clubes na disputa, são mais difíceis e têm mais valor de competitividade que o gauchão e mineiro. Os estaduais valem mais pelo fato de serem mais prováveis em certos casos.

É o troféu a levantar a cada ano. Inter e Grêmio entram com 50% de chance, exceto quando se desinteressam.

Um campeonato, como uma eleição, funciona por amostragem. As pesquisas podem errar, mas isso não é tão comum assim, salvo quando há problema de metodologia ou manipulação. Viradas acontecem em função de fatos novos.

Os fatos novos do futebol são novos jogadores ou um novo treinador.

Ou perdas por lesão ou convocações.

Desde pela metade do primeiro turno a estatística vem indicando Atlético-MG e Fluminense como possíveis campeões deste ano. Os clubes nem sempre entendem isso. Acham que sempre há tempo, que tudo pode virar de repente.

Apostam nas arrancadas milagrosas.

Há exemplos como a arrancada do São Paulo que tirou o título do Grêmio, que estava com onze pontos de vantagem.

Em 2012, o Vasco vinha em terceiro lugar quando os números começaram a antecipar o futuro.

Todos tinham de oscilar.

O Galo terminou o primeiro turno com o maior aproveitamento da história dos pontos corridos.

Vem oscilando muito, abaixo dos 50% que ainda poderiam levá-lo ao título.

Mesmo assim, está em segundo lugar.

O Fluminense terminou esta última rodada com a segunda melhor pontuação da história dos pontos corridos, um ponto a menos que o São Paulo num ano de extraordinária campanha. A estatística parece implacável. Quase um mistério.

O Grêmio criou fatos novos: as contratações de Elano e Zé Roberto.

O trabalho extraordinário de Wanderley Luxemburgo é outro componente que pesa. Mesmo na sua fase considerada decadente, empilha títulos. Nos últimos dez anos, ganhou dois brasileiros de pontos corridos, uma Copa do Brasil e seis regionais, sendo três paulistas e um carioca. Levantou taças em 2010 e 2011.

Só técnicos como Muricy Ramalho e Abel Braga podem se gabar de algo equivalente ou melhor.

Essa história de títulos é complexa. Dorival Júnior tem mais que Mano Menezes no quesito regionais.

Perde em brasileiros da segunda divisão.

Empata em copa do Brasil.

Nenhum deles têm um Brasileiro ou uma Libertadores.

Luxa continua um vencedor acima da média.

Apesar disso tudo, o Grêmio só conseguiu superar o Vasco, que oscilou muito, estando, mesmo assim, só três pontos atrás do tricolor gaúcho. Hiltor Mombach, que entende tudo de futebol, profetizou: o Flu teria mais chances que o Galo.

Dito e feito: o tricolor carioca está seis pontos à frente dos mineiros.

O Grêmio está quatro pontos atrás do Galo e nove atrás do Flu.

O Inter ficou para trás.

Tudo pode mudar, tudo pode acontecer, mas é muito provável que o Fluminense seja o campeão, ou o Atlético MG.

Também não é improvável que os três primeiros ao final sejam Flu, Atlético MG e o Vasco.

Não é absurdo que os quatro sejam Flu, Grêmio, Atlético e Vasco, ou mesmo Flu, Grêmio, Vasco e Atlético.

Em todos os casos, como já se via, antes do final do primeiro turno, dificilmente o campeão será outro que Atlético ou Flu.

O Grêmio certamente estará na Libertadores via campeonato brasileiro.

O Inter dificilmente chegará lá.

Está 18 pontos atrás do líder, nove atrás do Grêmio.

Um vexame.

Treinador aprendiz.

A estatística raramente se engana.

Ela entende tudo de futebol.

Só dados novos podem dobrá-la.

É o efeito sanfona: o da frente cai, o de trás sobe, mas, depois de certo tempo, o da frente para de cair e de trás para de subir.

A gordura acumulada no começo, se for consistente, sustenta o corpo em longos invernos.

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