Glau Barros no São Pedro

Glau Barros no São Pedro

Cantora faz show de lançamento de CD

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É hoje. No Teatro São Pedro.

A cantora gaúcha Glau Barros lança o seu CD. Há tempo não se consolidava uma cantora tão talentosa no Rio Grande do Sul. E temos muitas. A Malu Benitez não me deixa mentir. Glau é do tempo da voz e das escolhas musicais com muita poesia. Faz parte de um imaginário que permanece como a aura que deve ser. Encarna no presente um modo de ser que faz o mundo ser mais melodioso e suavemente nostálgico. Assim é no universo de Paulinho da Viola, Chico Buarque ou Tom Jobim.

Acompanho a voz de Glau há muito. Faz algum tempo, ela e meu grande amigo Celso Dias se apaixonaram. A proximidade aumentou. Ele virou produtor musical. Ela mergulhou na carreira de cantora mais do que nunca. O amor quando se une à arte torna o mundo ainda mais interessante. Digo isso tudo por mania de cronista, por esse apego às entranhas do cotidiano. Se ficasse no essencial, no lead da notícia, diria: Glau canta muito. Não deixe de ir ouvi-la só por causa desse joguinho da Seleção contra a Venezuela. O CD está um show. Muita gente boa colaborou para essa obra.

Alguns dos melhores meses da minha vida eu gastei traduzindo poemas de “As Flores do Mal”, do genial e maldito Charles Baudelaire. No prefácio de “Flores do mal, a paixão segundo Charles Baudelaire” (Sulina, 2003), expliquei o meu método: ser fielmente infiel e reescandalizar o poeta. Por que não sonhar? A poesia é maior riqueza do mundo. Um verso condensa milhões de páginas. Traduzindo, eu viajava. Perdi o relógio e a vergonha.

Na época, eu não era um velhote medroso como hoje. Ousei e me diverti demais. Escrevi assim: “Selecionei, traduzi literalmente, ‘transcriei’, aliterei, ‘desaliterei’, inventei palavras, cometi galicismos, mantive, ao máximo, o original, cortei, aqui ou ali, acrescentei, na estrita linha do sugerido pelo poeta, isto ou aquilo, interpretei, adulterei, ‘atualizei’, tornei vulgar, cometi anacronismos, desobedeci a tudo, principalmente à métrica, saí, algumas vezes, das palavras do original para tentar chegar mais ainda até elas e sempre me ative as ideias do original, mesmo quando me desviei ligeiramente delas, em termos de vocabulário, para entrar, novamente, de cabeça nelas. Fui terrivelmente infiel em nome da mais absoluta fidelidade”. Que saudade!

Escorei-me em Theodore Savory, que indica seis alternativas para traduzir: “Dar as palavras do original/dar as ideias do original; criar um trabalho original/ser apenas uma tradução; refletir o estilo do original/refletir o estilo do tradutor; fazer uma tradução contemporânea do autor/contemporânea do tradutor; acrescentar ou tirar do original/conservar o original; traduzir verso em prosa/traduzir verso em verso”. Aproveitei e usei todas as possibilidades em algum momento.

Às 18 horas, hoje, no Delfos, na Biblioteca da PUCRS, a convite do Ricardo Barberena, falarei dessa minha velha e infindável paixão. Depois, obviamente, vou para o imperdível show da Glau Barros. Vocês não vão? Sem poemas de Baudelaire e sem vozes como a da Glau as horas seriam mortas.


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