Guerra entre velhos e jovens

Guerra entre velhos e jovens

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Gosto dos jovens. Mas não escondo minha predileção pelos velhos. Talvez por corporativismo. Jovens têm certezas demais. Velhos, salvo os muito casmurros e os saudosos da ditadura por teimosia ou simplificação, costumam ser mais relativistas. Gosto ainda mais das velhas. Elas conservam a curiosidade dos jovens sem a precipitação e a arrogância deles.

Presto atenção aos embates entre velhos e jovens.

– Não tenho instagram – diz o velho.

– O senhor precisa se modernizar – pontifica o jovem.

– Não tenho necessidade disso.

– As pessoas mais velhas, por medo ou desconhecimento sempre acham que não necessitam das novidades. Experimente antes de recusar o novo.

– Já tenho twitter, facebook, skype, e-mail, celular...

– Ótimo. Mas o que conta agora é o instagram.

– O que esse instagram vai me dar que os outros já não dão?

– Não é essa a lógica. Tem mais coisa do que necessidade.

Jovens e velhos não se dão qualquer trégua. Qualquer coisa serve para dividi-los, colocá-los em campos opostos, distingui-los.

– Bom era o Leônidas.

– Duvido que jogasse mais do que o Messi.

Essa guerra é antiga, mas se renova a cada tecnologia.

– Peguei o primeiro táxi que passou.

– Táxi!? Por que não pegou um uber?

– Tinha um monte de táxis passando.

– Táxi é coisa de velho.

Mesmo coisas aparentemente consolidadas podem levar velhos e jovens ao campo de batalha. O conflito de gerações é sangrento:

– Consegui trabalho, tio.

– Com carteira assinada?

– Ah, não! Isso é coisa de velho.

Uma certeza quase todo velho tem: jovens não leem. Ainda não apareceu jovem, no entanto, para dizer que ler é coisa de velho. Há velho afirmando que é só questão de tempo e de coragem. Tem jovem dizendo que velho também não lê. Só finge. As vias de fato ocorrem:

– Jovem não sabe o que diz.

– Esse papo de “jovem” é coisa de velho.

– Esse negócio de “coisa de velho” é besteirol de jovem.

O pau pega. Já vi velho e jovem se engalfinharem por quase tudo. Um caso que me impressionou foi uma discussão por causa do tempo.

– No meu tempo...

– Coisa de velho – rebate o jovem.

– O quê?

– Falar assim, “no meu tempo”.

– Coisa de quem viveu – rebate o velho.

– De quem vive olhando o tempo.

– Então a meteorologia é coisa de velho?

– Também. Velho vive com medo da chuva.



 

 

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