Homens ao mar

Homens ao mar

Lutas pela liberdade

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No porto do Ceará não se embarcam mais escravos.

No Sul, os mais afoitos falam até em eslavos.

Onda alta, fúria negra e tambores silenciosos.

Rugem as matracas contra os senhores odiosos.

 

No porto do Ceará manda agora o Dragão do Mar,

A vida desses negros já não está suspensa no ar.

Homens altos, homens tristes, andam pela praia.

A voz forte ordena que dali ninguém mais saia.

 

No porto do Ceará não se embarcam mais escravos,

No Rio de Janeiro alguns já falam em batavos.

No porto do Ceará não se embarcam mais escravos.

 

É o fim de uma travessia velha como os anos.

Em São Paulo multiplicam-se os italianos

Trazendo utopias, porco dio e deuses romanos.

 

Uma negra esguia como o vento ou a miragem,

Corre mar a dentro como o rastro de uma aragem,

Vai cantando, vai chorando, vai falando assim:

 

No porto do Ceará não se embarcam mais escravos...


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