Houellebecq sem fronteiras
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Com voz firme e forte, apresentou um texto vigoroso em homenagem ao escritor Maurice Dantec, que morreu neste ano. Para Michel, Dantec e Phillipe Muray foram os grandes pensadores da França recente.
Eu traduzi Raízes do Mal (Sulina), de Dantec. A mídia brasileira ignorou.
Tudo que não sai pela Cia das Letras, a editora privada queridinha da mídia e adorada pelos leitores amadores, que sempre viveu de vender livros para o governo, praticamente não existe.
Em pouco mais de uma hora, Houellebecq liquidou Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Jacques Derrida, Michel Foucault, Jacques Lacan e Gilles Deleuze. Grande enganadores, charlatães. Autores de frases vazias e obscuras.
Sobrou também para os anglo-saxões, que passam a vida denunciando o declínio do pensamento francês.
Houellebecq disse o óbvio: não conhece, se existe, o grande pensador de língua inglesa do momento.
Nem eu.
Se os intelectuais estão em crise, os escritores estão em alta. A tese de Michel Houellebecq foi justamente esta: os escritores – como ele, Muray e Dantec – ocuparam o lugar dos intelectuais para falar das verdades que doem.
Dantec previu o avanço do islamismo radical.
Houellebecq focou as transformações do corpo no trans-humanismo.
Muray mostrou as entranhas do cotidiano.
De quebra, Dantec pulverizou a esquerda, dominante no jornal francês e sempre pronta a chamar de novos reacionários todos aqueles que não correspondem aos seus princípios. Quem não usa smartphone, ironizou MH, é reacionário. Quem não usa Uber, acrescento eu, também. Os "novos progressistas", segundo a expressão de Michel, são os velhos controladores do pensamento alheio. Para quem esperava um homem de direita falando, apareceu o Houellebecq de sempre: um anarquista desejoso de mais democracia direta e de menos elitismo.
Previsível, MH cumpriu sua sina: foi amado e odiado pela plateia.
Um show.
Depois disso, fomos beber vinho tinto no Cantante, no Bom Fim.
