Imagens de um porto perdido no tempo
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Umas garrafas de licor amendoadas
Essas garotas tatuadas e douradas,
Uma máquina remoendo grãos de café
Três estivadores transpirando em pé.
Um rio marrom correndo para o mar,
Esgoto a céu aberto enchendo o ar,
Hangares amarelos na rua do porto
E um homem manco, risonho, torto,
Vendendo seus bilhetes coloridos
Enquanto mulheres de seios grandes
Oferecem os prazeres mais baratos
Para marujos saídos de retratos.
O azul celeste é só uma pátina,
A prostituta diz que é a Fátima,
Uma luz do passado acende e apaga
Sob a densa fumaça dos baseados.
Os ruídos do bar se espiralam
As cores zumbem feito balas
As vozes se perdem como malas.
Há navios prontos para zarpar,
Amores que não podem embarcar
E a boca que queima como círio.
Nos lábios tisnados de carmim
Há um rastro triste de marfim,
E um alemão chamado Porfírio
Com um dragão por tatuagem.
Essa cena é sim a imagem
Do cotidiano melancólico
Desse mar oceano bucólico
Pendurado na grande cidade.
Um homem acaba de desaparecer,
Silencioso, ágil, para sempre
Engolido pelo bulboso ventre
Da metálica e grave embarcação.
Oh, que portentosa África!