José Fortunati e PDT andando de lado

José Fortunati e PDT andando de lado

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O legislativo não é correia de transmissão do executivo.

Não tem obrigação de fazer o que o prefeito manda.

Quando os interesses não coincidem, o tempo esquenta.

O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, pediu um tempo para o PDT, sigla criada por Leonel Brizola, o gaúcho que comandou a Rede da Legalidade contra o golpe para impedir a posse de João Goulart na presidência da República, em 1961. Quando a Câmara de Vereadores de Porto Alegre aprovou a mudança do nome da Avenida (ditador) Castelo Branco para Legalidade, Fortunati ficou em cima do muro: não vetou nem sancionou. Devolveu. Brizola deve ter dado um pinote no túmulo.

Por que mesmo um ex-petista, ex-sindicalista e homem de esquerda não sancionou a lei que tirava o nome do ditador?

Só ele poderá, um dia, dizer.

Quando o vereador pedetista Delegado Cleiton aprovou projeto criando o dia da Consciência Negra em Porto Alegre, a assessoria jurídica do prefeito arranjou um subterfúgio para considerar a lei inconstitucional. O lado frustrado fez outra leitura: o feriado não era do interesse dos comerciantes da cidade. Entre o poder popular e o econômico, teria prevalecido a sensatez pragmática dos lojistas. Cada cidade tem direito a quatro feriados religiosos. Bastava considerar o Dia de Finados como feriado nacional e colocar o Dia da Consciência Negra e da Defesa da Religiosidade no seu lugar. Por que isso não foi feito?

Até as pedras dos cemitérios são capazes de dar a resposta certa.

A relação entre Fortunati e os vereadores do PDT azedou. Diante de um projeto concedendo áreas ocupadas para construção de moradias populares, Fortunati optou pelo veto. Na época da organização da Copa do Mundo, não houve veto à ampliação de índices construtivos para favorecer interesses das construtoras e seus parceiros do futebol, observa, sem querer expor o seu nome, um vereador. Fortunati alega que as áreas em questão são alagadiças ou lixões, impróprias para moradias, além de afirmar que há grileiros na parada. Bastaria identificar e retirar os grileiros do jogo. Os necessitados agradeceriam.

Por fim, os vereadores derrubaram o veto do prefeito à exigência de ar-condicionado em toda a frota de ônibus de capital. Fortunati considera essa medida como demagógica, populista e irresponsável. Entende que os vereadores, inclusive os do PDT, estão jogando para a torcida (eleitores) de olho em 2016. Os usuários de ônibus com quem conversei acham que Fortunati está sempre jogando para os patrões. O economista André Coutinho Augustin mostrou que Fortunati assinou decreto em 9 de fevereiro de 2015 alterando a base de cálculo para o aumento das passagens de ônibus da capital concedido um dia depois.

A vida útil dos pneus caiu de 228.046 km para 168.063 km. O consumo médio de combustível aumentou de 0,4323 litros/km para 0,7530 litros/km. A tecnologia evolui, os pneus acabam mais rápido e gasta-se mais combustível. A EPTC publicou nota dizendo que havia inconsistência nos números. Não convenceu a todos. O prefeito alega que colocar ar-condicionado em todos os ônibus elevaria o preço da passagem em 20 centavos. Discutimos, ele e eu, ontem, no programa de Rogério Mendelsky, na Rádio Guaíba. O deputado Pedro Ruas (PSOL) pergunta: “De onde saíram esses 20 centavos?” E sugere: “Para obrigar os empresários a participarem da licitação fixada pela Constituição é só não dar aumentar de tarifa”. Por enquanto, eles atuam fora da lei. O prefeito não teria como deixar de dar o aumento por descumprir alguma lei? O poder público, quando quer, descumpre leis, em geral, quando elas são favoráveis aos interesses da população. Por exemplo, o Estado não paga o piso do magistério.

Por fora de tudo isso, Fortunati enfrenta a insatisfação do funcionalismo municipal, atingido por um tal efeito cascata. O Ministério Público foi à Justiça reclamar que a prefeitura calculava mal os aumentos salariais fazendo os reajustes incidirem sobre o que não deve. A consequência será uma redação salarial. O funcionalista entende que com um projeto de lei Fortunati pode contornar a situação. A Prefeitura indica que pode resolver o problema passado, mas não o futuro.

A relação do prefeito com o funcionalismo vai tão bem quanto o seu casamento com o PDT.

O casamento de Fortunati com o PDT anda complicado faz tempo. O prefeito apoiou Dilma Rousseff nas eleições de 2014. O PDT do agora secretário estadual da Educação, Vieira da Cunha, e do hoje senador Lasier Martins é antipetista. O prefeito José Fortunati pode estar certo em todas as suas escolhas e decisões. Mais certo parece estar quando começa a romper com o PTD, pois, em tese, ao menos, ele e o pedetismo nunca estão do mesmo lado. Não adianta ficar brabo comigo.

Chega uma hora na vida que, em vez de andar de lado, é melhor cada um assumir o seu lado.

Fortunati acha que o dos vereadores infiéis é o lado eleitoral.

O seu lado seria o dos interesses  de Porto Alegre.

O problema são as coincidências.

 

 

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