Macron, Trump e outros

Macron, Trump e outros

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Olhar do outro

 

      A social-democracia europeia é uma pedra nos sapatos dos americanos, que é como nos acostumamos a chamar os estadunidenses. Estraga a teoria de que só o Estado mínimo é eficiente. O modelo sueco incomoda muita gente. A França sempre desagradou com sua exótica mania de falar francês, preferir vinho a Coca-Cola e alternar esquerda e direita no poder sem acabar com a intervenção estatal. O atual presidente francês, Emmanuel Macron, está fazendo sucesso com a América, que é como os estadunidenses chamam seu país sem falsa modéstia. O New York Times publicou um elogio ao intrépido Emmanuel, “Macron se torna a resposta da França ao populismo autoritário”.

O populismo autoritário certamente atende pelo nome de Donald Trump. O resumo do programa de Macron feito pelo NYT é impressionante: “Eleito sob promessas de decretar leis trabalhistas mais favoráveis ao empresariado, dar uma base mais sólida ao sistema previdenciário, cortar alguns impostos sobre fortunas e tratar de uma série de outras questões que seus antecessores não conseguiram resolver, ele passou seus 10 primeiros meses de mandato percorrendo metodicamente sua lista de afazeres”. Não faz pensar na tal “Ponte para o Futuro” de Michel Temer? Tem uma diferença: a plataforma de Macron ganhou a eleição. Mas isso é detalhe. Temer anda defendendo até o golpe de 1964.

Numa prova de que o jornalismo estadunidense pratica o ideal da neutralidade, Macron é apresentado como “um presidente que tem um conceito abrangente de poder e uma meta revolucionária de puxar a sociedade e a economia da França para dentro do século 21”. Na contramão, Trump pretende puxar a economia dos EUA para o século XIX? Com maioria no parlamento, Macron governa sem discussão, quer limitar o poder de propor emendas dos deputados e cortar pela metade o número de parlamentares (577). Para o New York Times “a relação simbiótica entre Macron e um legislativo feito à sua imagem é um sinal promissor para muitos de seus eleitores de que a política esclerosada francesa das últimas décadas está dando espaço para uma era de renovação em um país que durante muito tempo adotou o princípio de uma presidência forte”. Esclerosada? Um substantivo não vale mais por mil adjetivos?

O correspondente do NYT localizou um indicador capaz de dar conta do tamanho da revolução Macron aos olhos de um bravo norte-americano: “A Coca-Cola diet substituiu o vinho como item mais popular no bar da Assembleia. As vendas de vinho despencaram, surpreendendo os barmen, embora estejam voltando aos poucos, por influência dos longos dias de trabalho. Os acólitos de Macron permanecem até o fim do expediente, ao contrário de seus antecessores”. Os deputados de Emmanuel Macron não se dizem políticos, mas empresários na política, o que é uma maneira singular de fazer política.

Num arroubo filosófico, Macron, que se gaba da sua cultura acadêmica, produziu uma reflexão capaz de fazer Aristóteles e Maquiavel se revirarem nos túmulos em busca do que dizer: "Desde que fui eleito presidente, venho avaliando a responsabilidade e o peso do cargo". O poder é tão solitário! Pobre, Emmanuel, tomando Coca diet. Enquanto isso no Brasil, a bala come: vereadora assassinada, caravana de ex-presidente da República alvejada a tiros e ministro do STF ameaçado. Bem-vindos à barbárie!

 

 

 

 

 

 

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