Militares não aprendem com o passado?

Militares não aprendem com o passado?

Tentação política é tradição no Brasil entre fardados

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      O novo ministro da Defesa, general Braga Netto, alterou a Ordem do Dia, para comemorar o golpe de 1964. Militares não aprendem com o passado?

Em “Ciclo revolucionário brasileiro” (Nova Fronteira, 1980), o marechal Odylio Denys, que tentou impedir a posse de João Goulart como presidente da República em 1961, disserta sobre as suas ideias de respeito à Constituição. Ele militava nos golpes em defesa da Magna Carta.

Dizia coisas assim, amparando-se na Constituição Federal de 1946: “Portanto, se o comunista não pode ser candidato, é porque ele é inelegível. Se é inelegível, não pode permanecer no cargo, se acaso conseguiu candidatar-se e eleger-se como se deu com Goulart”. Se o peixe passava pela rede, era preciso pescá-lo de novo. Toda atenção era considerada pouca: “Pode ocorrer que determinado cidadão, que professe ideias democráticas, venha a eleger-se e depois de eleito e de se achar no exercício do cargo se torne comunista”. Num caso desses defendia que as Forças Armadas agissem.

      Para ele era dever constitucional, em nome da defesa da lei e da ordem, impedir comunista de governar. O militar desconfiava de tudo: “As repúblicas da América Central e do Sul têm  que se livrar do comunismo à custa própria. A América do Norte, que era considerada a protetora das democracias, de um certo tempo para cá se retraiu e não ajuda mais a ninguém; às vezes até se coloca ao lado dos comunistas dessas repúblicas, fazendo reclamações, a pedido deles, para observância dos direitos dos homens quando ficam presos”.

Depois de 1964, Denys aconselhava a “elite civil” a despertar “do prolongado e renitente sono liberal, suicida, que tem levado tantas nações à escravidão marxista”. Sono liberal marxista!

      Denis era um golpista com método: “Vitoriosa a revolução de 1964, Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu a Presidência da República; na reunião que tive em Juiz de Fora em 28 de março de 1964, para fazer o apelo ao governador de Minas Gerais e ao comando da IV Região Militar para começarem o movimento revolucionário, disse-lhes que não deveria ser fechado o Congresso Nacional, para dar no exterior uma boa imagem do que se passava no Brasil”.

Por essa mesma razão certamente se adotaria um rodízio de generais no comando do país.

      A retórica do ideológico convicto Odylio Denis terá morrido?

Ele falava assim: “Tinha que dar uma lição a essa gente de esquerda e seus simpatizantes que menosprezavam as Forças Armadas e sua capacidade de reagir. Em todos os países do mundo existe uma quinta-coluna comunista que atua de modo a enfraquecer seus governos. Isso para não falar nos países que são governados pelos comunistas, onde existe um partido único. Nosso povo, nos últimos tempos, tem-se educado para constituir uma das grandes nações do mundo”.

Um dos institutos do período louvado por Odylio Denis, a Lei de Segurança Nacional, voltou a ser usada fartamente. Parece que esqueceram de revogá-la. Há leis que não pegam e outras que não morrem. Mais uma lição? O ministro da Justiça que acaba de voltar para a AGU parecia propenso a usá-la bastante. O livro de Odylio Denis abarcava o ciclo “revolucionário” de 1922 a 1964.

A tentação militar de fazer política persiste.


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