Ministro sem nunca ter sido

Ministro sem nunca ter sido

A era dos que partem antes de chegar

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      Yes, somos originais. Demais. Oui, temos jabuticabas. , somos espertos. Inventamos os ministros viúva Porcina, os que, como a personagem da novela interrpetada por Regina Duarte, que foi secretára da cultura sem ter exercido, de fato, o posto, são sem nunca ter sido. Carlos Alberto Decotelli pediu demissão antes de tomar posse. Inventou doutorado, pós-doutorado e copiou dissertação de mestrado. Será que colocará no currículo que foi ministro da Educação?  Quando teremos um ministro da Educação que tome posse e administre a pasta?

Temos jabuticabas para dar e vender.

A branquitude saiu em defesa das estátuas de escravagistas com um argumento malandro: não esquecer o passado. Por esse raciocínio a Alemanha deveria ter conservado todas as homenagens a Hitler. O passado deve ser estudado nas escolas, nos museus e nos livros. Por trás dessa astúcia argumentativa se esconde um agradecimento aos escravagistas por terem pavimentado o caminho de fortunas transmitidas de geração em geração. Em alguns casos, é simplesmente racismo disfarçado de crítica a anacronismos, julgar o passado pelo presente.

      O primeiro ministro da Educação de Jair Bolsonaro, o colombiano olavista Ricardo Vélez Rodríguez, confundia sociologia com moral e cívica. Maltratava o português por ser estrangeiro. O segundo ministro da Educação da era bolsonarista, o brasileiro Abraham Weintraub, confundia moral e cívica com fervor ideológico e adoração canina ao grande líder e ao guru de ambos. Maltratava o português por incompetência. Na saída, antes da demissão e da fuga para os Estados Unidos, derrubou uma portaria que garantia cotas para negros, indígenas e deficientes físicos em cursos de pós-graduação de universidades públicas. O terceiro ministro da educação da “nova era”, Carlos Alberto Decotelli, fez pós-doutorado (negado pela universidade alemã) sem ter doutorado. Declarou-se doutor por uma universidade argentina sem ter sido aprovado na defesa de tese. Foi  acusado de plágio em trechos da sua dissertação de mestrado. Negro, relativiza o racismo no Brasil e fala em “equalização” de oportunidades.

      As cotas, explicou no Esfera Pública, devem ser apenas um dos mecanismos dessa equalização de oportunidades para não brancos. Ficou a impressão de que ele tem ideias melhores e mais eficientes. Faz sentido. Uma questão, porém, agiganta-se: como se faz mesmo essa tal equalização que até hoje não funcionou? Esse termo, equalização, tem o dom de parecer adequado por ser vago. Sempre lembro de Tancredo Neves traduzindo, num discurso escrito por seus assessores, “esforçar-nos-emos para criar uma política mais inclusiva” por “trabalharemos para que ninguém fique de fora”. Decotelli era presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) quando uma licitação para compra de computadores chamou atenção da Controladoria Geral da União.

      A grana envolvida era de R$ 3 bilhões. Segundo o jornal “O Globo”, para a Escola Municipal Laura Queiroz, do município de Itabirito (MG), seriam adquiridos 30.030 laptops educacionais, embora o colégio só tenha 255 alunos. Ou seja, seriam comprados 117,76 laptops por aluno. Só nessa escola, o prejuízo seria de R$ 54,7 milhões”. Um pequeno erro de estimativa de necessidades. Grave para um homem que se diz especialista em dados quantitativos e totalmente estranho a discussões ideológicas? Decotelli perdeu o cargo uma semana depois do lançamento do malfadado edital. Mas não o prestígio junto ao governo. A prova é que voltou de maneira triunfal como ministro. Perdeu outro cargo, o de ministro da Educação, cinco dias depois de sair do anonimato para a glória fatal.

 


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