Nossa ignorância sobre a pandemia

Nossa ignorância sobre a pandemia

Ninguém sabe quando vai acabar

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      Sejamos francos: ninguém sabe quando a pandemia vai acabar. Nem quando a epidemia atingirá o seu pico no Brasil. Nunca se soube tão pouco apesar da velocidade com que a ciência corre para fabricar uma vacina contra o coronavírus. Ninguém sabe por quanto tempo a vacina protegerá as pessoas. O mínimo que se espera é um ano. Ninguém sabe tampouco por quanto tempo os anticorpos permanecem no organismo de cada um. Não se sabe se pode acontecer reinfecção. Tudo é hipotético. Um estudo chinês assustou o mundo: os anticorpos perderiam força em três meses. Pode alguém pegar o coronavírus mais de uma vez? Eis a questão.

      Só podemos esperar solução da ciência. Acostumados à objetividade, os cientistas não vendem ilusões: uma vacina deve ficar pronta até o final deste ano. Talvez mais de uma. Os chineses já planejam vacinar seu enorme exército como teste em tamanho real. A vacina de Oxford avança trazendo otimismo. O resto é especulação. Como viver com tantas dúvidas, incertezas e riscos? Pode vir uma segunda onda de coronavírus antes da vacina? A Europa, que reabriu a economia e vive uma volta à “normalidade”, teme essa nova vaga. Mesmo assim, tenta se comportar como se o perigo tivesse ficado para trás. É verão no Velho Mundo. Os europeus querem praia, sol, viagens e aglomerações.

      Ninguém sabe o que pensar, o que fazer, o que dizer. Só temos as fórmulas pertinentes e conhecidas: fiquem em casa, lavem as mãos. O confinamento, chamado de isolamento social, produz ansiedade e depressão. A doença acarreta como efeito paralelo graves problemas econômicos. Por quantos meses podemos resistir em ritmo lento ou quase parado? Imaginou-se um passaporte de imunidade para quem tivesse anticorpos. A ideia tem sido criticada por especialistas dado que não se sabe por quanto tempo os anticorpos dão conta do recado. Os mais estressados perguntam: se os anticorpos não durarem mais do que três meses, a vacina também só protegerá por esse exíguo número de dias?

      Já chegamos à segunda metade de 2020. Dificilmente se sentirá saudades da primeira. Ninguém sabe como resumir esses primeiros seis meses sem resvalar para a oscilação. Talvez seja possível com uma palavra curta: medo. Ou esse termo é suave demais? Ninguém sabe o que esperar. Claro, obviamente, todos esperamos que o pior tenha ficado para trás e que o futuro seja feliz. A ideia de felicidade tornou-se menos exigente, embora paradoxalmente mais distante: queremos a nossa normalidade de volta com seus beijos, abraços, encontros, festas, jornadas presenciais de trabalho e até com os seus tantos defeitos.

      Ninguém mais sabe como consolar quem pede amparo. Redes de apoio ecoam nos aplicativos. A falta de energia e sinal da internet são apavorantes. Ampliam a solidão que nos devasta. O sopro do vento tira o sono. Muitos se perguntam: por que tantas desgraças?  Qual a palavra capaz de dar alívio sem parecer falsa? Há quem recorra ao conforto da história: outras pandemias existiram e todas passaram. Por toda parte, entre suspiro e grito incontido, ouve-se o refrão: vai passar.


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