Nossa mãe faz 80 anos

Nossa mãe faz 80 anos

Aniversário de uma mulher guerreira

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Mãe é mãe. Uma vida dedicada aos seus. Minha mãe, Eneida, faz 80 anos hoje. Festejamos o seu aniversário, em Santana do Livramento, no sábado. Dizer “minha mãe” é como um abuso, uma apropriação. São sete filhos. Nossa mãe. A festa foi muito bonita. A família reuniu-se quase inteira para a homenagem. Gente da Fronteira Oeste espalha-se para viver. Há muito que o tempo dos frigoríficos e dos lanifícios ficou para trás. Sempre chega o tempo de sair para estudar, trabalhar e começar uma nova fase. Laudes, meu irmão mais velho, veio de Rondonópolis, no Mato Grosso, para onde migrou há quase 20 anos em busca de novos espaços e oportunidades, que soube encontrar ou criar.

      Um cronista deve universalizar o particular como quem canta um hino ou uma cantiga de ninar. A história de uma família é um pouco a história de todas as famílias: sonhos, projetos, apostas, lutas, ganhos, perdas, recomeços, escolhas, partidas, retornos, encontros, balanços, esperanças, momentos de comemoração. Mas cada história é sempre única nessa convergência de itinerários. Fiquei vendo minha mãe na festa. Que vida de lutas. Eis uma mulher guerreira e vencedora. Fez muito com o pouco que tínhamos. Mais do que tudo, ensinou valores, o gosto pela vida, a coragem de enfrentar as dificuldades, o amor à verdade. Lá estamos nós – Iara, Laudes, Irani, eu, Vera, Jorge e Regina – na foto de família, com a nossa mãe, a foto dos 80 anos, a síntese de tantos combates, amores, vitórias.

      E lá estavam genros, noras, netos, bisnetos. Em algum momento, pensamos certamente nos que já partiram, como nosso pai, amor de minha mãe, cujas visitas ritmadas ao seu lugar de repouso, no verde da campanha, na solidão serena de Palomas, mostram um apego silencioso e fiel, e sorrimos ao ver Alice, binesta de apenas dois anos, já dançando no salão e fazendo mesuras de prendinha com o vestido. A família cresceu. Em breve, minha mãe terá a primeira neta médica, Carol. Já temos advogados, jornalistas, professores e trabalhadores incansáveis em qualquer campo, das lides campeiras aos escritórios. Na família de um cabo da Brigada Militar e de uma dona de casa, essas coisas contam como saltos gigantescos. Ficamos todos orgulhosos. Imagino que, aos 80 anos, a mãe se sinta recompensada.

      Nina, a organizadora da festa, no seu breve e preciso discurso, destacou que a mãe é que mantém a família soldada, dá colo a todos, une, ampara, estimula, reúne, magnetiza. Família é tudo. Em festas assim a gente reencontra quem não via há tempos. Passado e presente dançam ao som de certa alegre nostalgia. No caso, a música deliciosa do Sonata Trio, um grupo de competentes músicos santanenses. O futuro pareceu mais seguro. Assim foi. Na madrugada gelada, com a cidade lavada pela chuva, numa paisagem típica da região, o vento assobiando nas esquinas, respirei fundo, senti os cheiros da infância, bebi a felicidade desse estar junto, desse cimento familiar, dessa relação de sangue e amor, e murmurei: obrigado, mãe, nossa referência.


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